O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirmou que bancos brasileiros não estão expostos ao conglomerado estatal Dubai World, que declarou moratória de quase US$ 60 bilhões em sua dívida na semana passada. Segundo ele, as instituições nacionais não têm nenhum tipo de vinculação comercial com este conglomerado porque há “restrições da regulação prudencial brasileira”.
“O Brasil está preparado para enfrentar, como enfrentou no passado, situações muito piores”, comentou, ao ressaltar que o País foi bem-sucedido ao sair da crise financeira internacional e tem plenas condições de superar “oscilações de humor” registradas nos mercados internacionais.
O mercado financeiro nacional, aliás, teve um dia mais tranquilo na sexta-feira, após ter acusado o golpe do “efeito Dubai” na quinta-feira, quando o Ibovespa recuou 2,25%. A Bovespa subiu 1,04%, aos 67.082,15 pontos, enquanto o Dow Jones, referência das bolsas americanas, marcou queda de 1,48%.
O dólar comercial voltou à trajetória de queda, recuando 0,40%, e fechando na cotação de R$ 1,743. Na Europa as bolsas fecharam em alta. Em Londres, o índice FT-100 subiu 0,99%; em Paris, o CAC-40 avançou 1,15%; em Frankfurt, o Dax-30 subiu 1,27%. “Eu penso que as pessoas estão usando as notícias de Dubai como uma oportunidade de compra”, disse Heino Ruland, estrategista da consultoria Ruland Research, em entrevista à agência Dow Jones. “Dubai não é uma grande ameaça para a saúde do mundo financeiro.”
SEM COLAPSO. O presidente do BC afirmou que ainda “não se prevê colapso do sistema financeiro internacional” a partir do episódio envolvendo o Dubai World. “Agora, é uma situação completamente diferente. É uma situação externa a um grande mercado central”, afirmou ele na sexta-feira, após uma palestra em São Paulo.
Segundo Meirelles, autoridades regulatórias e monetárias de outros países já enviaram ao Brasil sinais de que o ocorrido com este conglomerado não deve provocar grande abalo no sistema financeiro dos países centrais por exposição do seus bancos àquela instituição.
“São sinais, vamos aguardar os próximos dias. As previsões que temos recebido de fora são de que não se espera um colapso, muito longe daquilo que ocorreu no ano passado por razões diversas”, comentou. “O fato concreto é que o ambiente hoje é de cuidado. Alguns bancos devem perder recursos nesta instituição, mas não é algo que possa lembrar episódios passados.”
O Brasil, segundo Meirelles, não deve registrar efeitos a partir do episódio do Dubai World principalmente porque está crescendo forte e “o País tem todo o arsenal de medidas de combate à crise em ordem, pronto, preparado”.
O abalo nos mercados financeiros provocado pela proposta de Dubai de adiar os pagamentos de dívidas é passageiro e não terá maiores consequências para o Brasil, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“Acho que não vai pegar. Isso (o medo de calote) mexeu um pouco com os mercados, mas acho que aqui não vai ter maiores consequências”, disse o ministro.
O presidente-executivo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, disse também não acreditar em maiores reflexos de Dubai sobre o Brasil.
“Foi até melhor que essas notícias vieram num dia de feriado nos Estados Unidos (Dia de Ação de Graças)”, que paralisou os negócios em Wall Street, comentou. “Assim dá tempo de os investidores pensarem melhor”, disse Trabuco, ao considerar que não há exposição de bancos brasileiros naquele mercado.
bancos. O banco britânico HSBC é o estabelecimento estrangeiro mais exposto à dívida de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com 11,3 bilhões de euros de empréstimos no fim de 2008, segundo dados disponíveis no site da Associação dos Bancos nos Emirados (EBA).
O Credit Suisse calculou em 13 bilhões de euros a exposição dos bancos europeus à dívida de Dubai e das sociedades a eles associadas (principalmente a empresa de investimentos Dubai World e a imobiliária Nakheel), segundo um estudo publicado quinta-feira após o pedido de moratória feito na noite de quarta-feira pelo emirado.
O HSBC, que está na região há muitos anos, ainda não fez comentários sobre seu prejuízo.