O Banco Central anunciou na sexta-feira medidas que afrouxam a concessão
de crédito para pessoa física no País. A restrição a empréstimos
superiores a 48 meses imposta no fim do ano passado deu espaço à volta
de financiamentos de até 60 meses, que beneficiam principalmente o setor
automobilístico. Na prática, o BC está tornando o crédito mais barato
para evitar a desaceleração da economia brasileira, reduzindo as
exigências de repasse dos bancos à instituição e, com isso, aumentando o
fluxo de capital disponível para tomada de empréstimos.
“As
medidas confirmam que o governo se convenceu de que atingiu um ponto de
expansão da economia onde o crescimento é muito pequeno, existe a
sensação de que a economia vai andar com freio de mão puxado”, aponta o
professor do Grupo Ibmec Gilberto Braga. A ponderação de risco nas
operações de crédito está sendo diminuída a fim de aliviar setores
tradicionalmente conhecidos por impulsionar mercado e demanda interna.
Braga lembra que muitas montadoras já estão com os pátios cheios de
automóveis estocados, e que a medida chega justamente para impulsionar
esse mercado, responsável por puxar outros segmentos com ele, a exemplo
de autopeças, eletroeletrônicos e serviços.
O vice-presidente do
Sindicato Intermunicipal dos Concessionários e Distribuidores de
Veículos no Estado do Rio Grande do Sul (Sincodiv), Ambrósio Pesce Neto,
compartilha a opinião. O dirigente explica que até 70% das vendas de
veículos são executadas a prazo, e que a medida deve ampliar o espectro
de possíveis compradores. Isso porque com a maior oferta de crédito, os
consumidores poderão adquirir automóveis com entradas ou parcelas
menores. “Quando o governo alivia as exigências para disponibilizar o
crédito, é evidente que as entradas caem porque o nível de risco está
diminuído”, diz. “É uma notícia que traz bons ventos para o negócio
automobilístico nessa reta final do ano”, acrescenta Pesce Neto.
O
BC também anunciou a redução de exigências para o crédito consignado e
empréstimos de 24 a 36 meses, mas continua com a cinta apertada para
financiamentos que ultrapassem os 60 meses. Além disso, a instituição
estabeleceu a manutenção do percentual mínimo de pagamento da fatura do
cartão de crédito, que segue em 15%. Anteriormente, o BC havia
sinalizado que aumentaria a fatia para 20%. A notícia é bem recebida no
varejo.
A economista da Fecomércio-RS Patrícia Palermo argumenta
que o nível de endividamento das famílias ainda está em patamares
razoáveis, o que pode ter contribuído com uma decisão que, próxima ao
Natal, chega em boa hora. “Isso libera mais recursos para serem gastos”,
diz. “Se pensava que se isso não fosse feito haveria um problema
seríssimo de dificuldade das pessoas em pagar suas dívidas, o que não se
verificou, pois os indicadores estão controlados”, acrescenta.