Terceira colocada no primeiro turno da eleição presidencial com 21,3% dos votos válidos, a ex-senadora Marina Silva (PSB) declarou ontem seu apoio ao tucano Aécio Neves na disputa contra a presidente Dilma Rousseff (PT). O anúncio foi feito um dia depois de Aécio ter se comprometido publicamente a incluir em seu plano de governo a maioria das sugestões feitas por Marina (veja quadro ao lado). Ela havia condicionado o apoio a Aécio a um alinhamento programático entre suas propostas e as do tucano.
“Tendo em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e meu apoio neste segundo turno”, disse Marina. “Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos.”
Marina, porém, procurou dizer que não houve negociação em troca do apoio muito menos de cargos num possível governo Aécio. “Quero, de início, deixar claro que entendo esse documento como uma carta-compromisso com os brasileiros, com a nação. Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida a mim, em busca de apoio”, disse Marina. “Faço esta declaração como cidadã brasileira independente que continuará livre e coerentemente, suas lutas e batalhas no caminho que escolheu. Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança para governar. O que me move é minha consciência e assumo a responsabilidade pelas minhas escolhas.”
Parte das demandas de Marina já estava no programa de governo do tucano. Mas, no sábado, Aécio leu uma “carta-compromisso” contemplando formalmente algumas das reivindicações da ex-candidata, que incluem o fim da reeleição para cargos do Executivo e compromissos ambientais e sociais. A única proposta de Marina que acabou ficando de fora do plano do tucano foi a redução da maioridade penal dos 18 para os 16 anos em casos de reincidência e crimes hediondos.
Família Campos
A carta-compromisso de Aécio foi lida no sábado em Recife (PE). O ato foi marcado por um forte simbolismo: ao mesmo tempo em que acatava propostas de Marina, recebia o apoio da família do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em agosto. Campos era o candidato do PSB à Presidência e Marina, sua vice. Com a morte do ex-governador, em um acidente aéreo, a ex-senadora assumiu a cabeça de chapa. Na ocasião, a família Campos também se posicionou decisivamente para que Marina fosse oficializada como sucessora do candidato.
Em carta lida por João Campos, filho mais velho do ex-governador, a viúva Renata Campos disse acreditar “na capacidade de diálogo e gestão” de Aécio e desejou “sorte” a ele na eleição. A solenidade também procurou também criar um vínculo entre o tucano e o Nordeste – região em que Dilma venceu com folga no primeiro turno. “Somos nordestinos, pernambucanos e queremos, juntos, construir a nação brasileira. Siga em frente, Aécio. Boa sorte e que Deus nos proteja”, escreveu Renata na carta.
Em comício em Sirinhaém, em Pernambuco, Aécio agradeceu e disse que os “sonhos de Eduardo” agora são os seus sonhos. “O que estamos fazendo aqui não é uma aliança eleitoral. É um pacto por todo uma vida”, disse Aécio ao lado de Renata Campos.