O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse hoje (30) ter pedido aos
demais países do Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul – que a escolha do próximo diretor-gerente do Fundo
Monetário Internacional (FMI) seja baseada no mérito, não na
nacionalidade. Ao lado da ministra da Economia da França, Christine
Lagarde, Mantega reivindicou a continuidade das reformas no organismo
internacional para dar mais poder aos países emergentes.
A posição do ministro diverge de vários países latino-americanos, que
pediram que o comando do fundo deixe de ser ocupado por um europeu. Para
Mantega, a nacionalidade deve vir em segundo plano. “Até acho desejável
a alternância entre países avançados e emergentes no médio e longo
prazo, mas acredito que escolha seja feita mais pela qualidade e pela
competência do que pela nacionalidade”.
O discurso de Mantega se aproxima de países como África do Sul e
Austrália, que há cerca de uma semana também manifestaram preferência da
escolha pelo mérito, independentemente do país de origem do candidato.
Esses dois países dividem a presidência do grupo de trabalho do G20 –
grupo das 20 maiores economias do mundo – que discute a reforma no FMI.
Apesar de não ser contrário à escolha de um europeu para presidir o
fundo, Mantega rechaçou o argumento de que o próximo diretor-gerente
deve vir da União Europeia porque diversos países do continente estão
pedindo ajuda econômica. “O fato de o fundo estar resolvendo a crise
europeia não significa que um europeu seja o mais adequado para
comandá-lo. É o mesmo que dizer que um latino-americano deveria ter
presidido o FMI durante crise na América Latina”.
Para Mantega, as qualidades mais importantes dos candidatos devem ser a
competência, a experiência e o comprometimento com as reformas em
curso, que aumentarão as cotas do Brasil no fundo de 1,4% para 2,3% até o
fim de 2012. O ministro também reivindicou maior participação dos
países emergentes no corpo burocrático do fundo, nas vice-presidências e
nas diretorias.
Lagarde escolheu o Brasil como primeira etapa da campanha para assumir o
comando do FMI após a renúncia de Dominique Strauss-Kahn, que renunciou
para se dedicar à defesa do processo em que é acusado de agressão
sexual nos Estados Unidos. Em entrevista coletiva, ela ouviu de Mantega
pedidos para que as reformas empreendidas no fundo nos últimos anos não
sejam interrompidas.
Mantega recusou-se a comentar a proposta feita por ele aos demais
países do Brics de que a gestão do próximo diretor-gerente seja um
mandato-tampão, que durasse até o FMI concluir a segunda etapa de
reformas, em 2012. Afirmou apenas que os países do Brics ainda não
fecharam posição em torno de um candidato.
O ministro da Fazenda elogiou ainda a gestão de Strauss-Kahn à frente
do FMI por ter iniciado as reformas que permitiram a maior participação
de emergentes e, segundo ele, ter se afastado do receituário
tradicional. “Strauss-Kahn fez política não ortodoxa. Durante a crise, o
FMI recomendou políticas anticíclicas [que países gastassem mais para
manter o crescimento], o que talvez não fosse típico no passado. Além
disso, o fundo concedeu linhas de crédito sem condicionantes e com maior
participação dos emergentes”.
Na quarta-feira (1), Mantega recebe o presidente do Banco Central do
México, Agustín Carstens, que se apresentou como o candidato
latino-americano e defende a alternância de nacionalidades no comando do
FMI, ocupado desde 1945 por um europeu. Na quinta-feira (2), Carstens
se reúne com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em São
Paulo.