No momento em que as atenções do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional estão voltadas para a Reforma da Previdência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou uma união dos parlamentares de oposição ao governo para evitar que as regras sejam aprovadas no Legislativo.
Em entrevista à Rádio Itatiaia na manhã desta sexta-feira, o ex-presidente, que completa hoje 72 anos, afirmou que as alterações na Previdência são um “crime” contra os mais pobres e representa um “desmonte” das políticas implementadas ao longo dos anos.
“A oposição precisa juntar forças para evitar que essa reforma aconteça, porque o que eles estão fazendo não é uma reforma, é um desmonte, quase que uma implosão de tudo aquilo que foi considerado conquistas sociais para o povo brasileiro”, disse.
Lula lembrou que reformas anteriores garantiram a aposentadoria ao trabalhador rural e à mulher que completasse 65 anos, independentemente de ela ter trabalhado.
“Ou seja, na verdade criamos uma política de seguridade social, criamos um fundo para isso, e agora querem diminuir sem sequer levar em conta a importância dessas pessoas numa cidade pequena. Às vezes a economia nessas cidades pequenas gira por conta dessa aposentadoria”, afirmou o petista.
O ex-presidente também criticou o arquivamento da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) pela Câmara dos Deputados, nessa quarta-feira. O então procurador Rodrigo Janot acusou o peemedebista dos crimes de organização criminosa e obstrução da Justiça. No entanto, por 233 votos a 251, o Supremo Tribunal Federal (STF) não poderá processar o presidente.
Lula argumentou que notícias veiculadas pela imprensa apontam que o presidente teria liberado cerca de R$ 30 bilhões em emendas parlamentares, especialmente para a bancada ruralista da Câmara, em troca de votos a seu favor no plenário.
“Se for verdade que o presidente gastou R$ 30 bilhões para ficar na Presidência da República com as duas votações na Câmara, é uma coisa criminosa contra a sociedade brasileira, porque não tem tido dinheiro para melhorar a saúde e a educação”, reclamou.
Ao comentar sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), Lula afirmou que o mesmo Congresso que mantém Michel Temer no poder é aquele que fez uma “sacanagem ímpar” com a colega de partido, referindo-se às chamadas “pedaladas fiscais” que justificaram o seu afastamento.
Talvez o maior erro da legenda, na avaliação dele, tenha sido não reforçar a capacidade de fazer alianças no Congresso Nacional, até porque, no sistema político brasileiro, um presidente precisa de maioria no Legislativo para aprovar projetos de seu interesse. E lamentou o fato de ter precisado do PMDB da chegar ao Palácio do Planalto.
“Seria maravilhoso que depois das eleições o resultado depois das eleições fossem 513 anjos na Câmara e 81 anjos dentro do Senado, mas não é assim a humanidade”, disse ele, ao explicar que “infelizmente” um governante precisa de maioria no Legislativo.
“Muitas vezes um deputado, um senador coloca uma faca nas costas de um partido que está governando para exigir a mudança de uma lei.. Isso faz parte do processo democrático”. Lula ressaltou ainda que o Congresso representa a cara da população no dia da eleição.
Questionado sobre a disputa presidencial em 2018 e a possibilidade de candidaturas avulsas a presidente da República, Lula frisou que todo cidadão brasileiro com mais de 35 anos tem o direito de disputar o Palácio do Planalto, mas é importante a filiação partidária até para que a legenda seja cobrada pelo povo em caso de falhas do presidente.
Aproveitou para criticar uma possível candidatura do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), a presidente. “Ele só tem um problema, precisa governar São Paulo. Está cheio de políticos que se elegem prefeito de São Paulo com o compromisso de governador por quatro anos, depois percebe que os problemas são grandes e tiram o cavalinho da chuva para ser candidato a governador, a senador, a presidente. É um erro”, ponderou.
Em relação à Operação Lava-Jato, o petista reiterou que teve a vida vasculhada e até agora não há nenhuma prova concreta contra ele. “Só espero que peçam desculpas pelo que estão fazendo. E peçam desculpas para o povo brasileiro”.
Lula está em Minas para participar de uma caravana e na segunda-feira virá a Belo Horizonte.