Nos últimos seis anos, os investimentos
diretos do Brasil na Argentina dispararam e se diversificaram. A
perspectiva, segundo especialistas, é que se mantenham em crescimento em
diversos setores industriais. Os dados são da Embaixada do Brasil em
Buenos Aires. Fatores como o crescimento econômico argentino, a
desvalorização do peso em relação ao dólar e a possibilidade de escapar
de barreiras comerciais são algumas das razões apontadas para esse
comportamento.
O crescimento econômico argentino (9% anual), a desvalorização do peso
em relação ao real (R$ 1 igual a $ 2,6), a possibilidade de escapar das
barreiras comerciais, a chance de atender à demanda local e exportar
para o Brasil e outros mercados são os motivos que levam empresas
brasileiras de diferentes setores a se instalarem na Argentina, segundo
economistas, autoridades de governo e empresários do país vizinho.
A estimativa de estoque de investimentos globais brasileiros no país
vizinho, entre 1997 e o primeiro semestre de 2011, é de US$ 11.189,75
bilhões. Desse total, segundo dados da embaixada, quase US$ 8 bilhões
(US$ 7,7 bilhões) foram investidos entre 2005 e 2011. Sendo, por
exemplo, 25% correspondentes ao setor industrial, 18,5% ao petróleo e
gás e 10,9% a mineração.
A projeção de investimentos, não incluídos nesse estoque, conta, por
exemplo, com a instalação de uma fábrica do Grupo Moura, de baterias,
com US$ 30 milhões até 2015, conforme anúncio feito pela companhia no
ano passado. A empresa Randon, do setor de reboques e semirreboques,
também informou em maio deste ano que investirá US$ 8 milhões na
ampliação da sua fábrica no país até 2012.
A Vale prevê investimentos de cerca de US$ 3,5 bilhões no projeto de
extração de potássio na província de Mendoza, que envolverá obras também
nas províncias de Buenos Aires, Neuquén e de Rio Negro, com a
construção de um porto e de uma ferrovia.
As operações da Vale em Mendoza tinham sido suspensas, mas foram
retomadas em julho, segundo a assessoria de imprensa do governo de
Mendoza. Esse promete ser o maior investimento brasileiro já feito na
Argentina, superando a compra feita pela Petrobras da Perez Companc
(Pecom), em 2002.
A Vale pretende vender o produto no mercado interno e no mercado
brasileiro, segundo assessores do governo de Mendoza. Interlocutores da
empresa contaram que a companhia já investiu US$ 1,5 bilhão do total de
US$ 5 bilhões previstos. Na semana passada, a presidenta da Argentina,
Cristina Kirchner, anunciou que a Camargo Corrêa investirá US$ 75
milhões para ampliar sua fábrica de cimento no país.
“A Camargo Corrêa bate recorde de produção no país. A Argentina cresceu
10,9% nos primeiros cinco meses deste ano, superando o recorde de 2010 e
o cimento tem papel fundamental, ligado ao crescimento e à construção”,
disse a presidenta ao lado de representantes da companhia. Segundo ela,
as empresas “não têm por que temer a Argentina”.
A desvalorização do peso em relação ao real é uma das razões do aumento
dos investimentos. Na opinião do economista Bernardo Kosacoff,
ex-diretor da Comissão Econômica para América Latina (Cepal), a
Argentina é um “destino natural” das empresas brasileiras que podem
então exportar para outros mercados e adquirir know-how de companhia internacional.
Para ele, outro “fator natural” é a “complementação” dessa cadeia
industrial. No caso dos automóveis fabricados na Argentina, por exemplo,
eles contam com peças do Brasil e são exportados, quando prontos, para o
mercado brasileiro, principalmente.
O economista Diego Giacomini, da consultoria Economia e Regiões, de
Buenos Aires, observou que os custos ainda compensam para o investidor
que desembarca do Brasil na Argentina. “Os custos de energia elétrica e
de gás no Brasil são seis ou sete vezes maiores do que na Argentina”,
disse.
Os serviços públicos privatizados passaram a receber subsídios do
governo argentino pouco depois que o ex-presidente Nestor Kirchner tomou
posse em 2003, reduzindo os custos das empresas e as tarifas para os
consumidores. Giacomini acha, porém, que o Brasil é “mais seguro e
confiável” hoje para um investidor, já que “as regras não mudam como na
Argentina”.
O empresário argentino do setor de calçados, Carlos Alberto López, que
tem uma fábrica com sócios brasileiros em Buenos Aires, disse que a
sociedade foi feita há dois anos, quando outras empresas brasileiras do
ramo desembarcaram na Argentina. Mas hoje ele acha que, apesar da
desvalorização do peso, os custos já não são tão baixos devido ao
aumento da inflação no país.
“Assim como meus sócios, outras fábricas de calçados vieram para vender
no mercado local e daqui também exportar para o Brasil e outros
mercados. Uma forma de escapar das barreiras comerciais argentinas. Mas
agora a inflação está tão alta que não compensa tanto como antes”,
disse.
Nesse caso, elas têm procurado principalmente a Região Norte do país
vizinho. Para o embaixador, o comércio bilateral deverá bater este ano o
recorde de cerca de US$ 40 bilhões, mesmo quando setores reclamam das
barreiras comerciais argentinas e quando exportadores argentinos do
setor automotivo se queixam de veículos parados na fronteira brasileira.