A fragilidade da economia brasileira está refletida na fraca participação do país no comércio exterior. A indústria nacional patina e não consegue ser competitiva no mercado externo. O país está longe de se tornar uma Venezuela, que importa quase tudo que consome, mas a falta de uma estratégia consistente por parte do governo e das empresas tem condenado a balança comercial a caminhar para um déficit anual pela primeira vez desde 2000.
A participação da indústria nas exportações brasileiras encolheu nos últimos 20 anos. Em 1994, os embarques de produtos manufaturados representavam 57,3% das nossas vendas para o resto do mundo. As de semimanufaturados eram 15,8% e os básicos, 25,4%. No acumulado de janeiro a maio deste ano, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), os básicos têm maior presença: 50,3%. Já os manufaturados detém 34,8% do bolo, os semis, 12,2%; e operações especiais, 2,7%.
A perda da competitividade da indústria nacional se agravou nos últimos anos com o aumento do custo de vida e dos juros. “Para uma economia que tem mais inflação que o resto do mundo, quanto maior o volume de produtos comercializáveis, maior a tendência de convergir para a inflação global. A abertura ajudaria muito na redução da carestia e, sobretudo, no controle das contas públicas”, explica o economista Pérsio Arida.
Outra questão que emperra a maior participação brasileira no mercado mundial, segundo especialistas, é o protecionismo que ainda domina alguns setores, como a obrigatoriedade do conteúdo nacional em alguns segmentos. Para eles, isso tem mais prejudicado o avanço industrial do país do que ajudado a produção nacional. O embaixador José Botafogo Gonçalves, vice-presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), destaca que essa medida vai na contramão de casos de sucesso como o da Embraer, que, para ser competitiva lá fora e disputar encomendas bilionárias, importa a maioria dos componentes de seus aviões. “Num mundo globalizado, é importante buscar os melhores produtos ou componentes para ser competitivo onde quer que ele esteja”, destaca.
Fragilidade A crise enfrentada pela Argentina é outro fator de preocupação. Além de ser o maior importador de produtos industrializados do Brasil, o país vizinho é destino de 80% dos veículos fabricados aqui. Qualquer problema lá afeta diretamente a balança comercial brasileira. No acumulado de janeiro a junho, o recuo foi de 2,6% e o saldo comercial foi negativo em R$ 2,49 bilhões. Se esse resultado da balança continuar no vermelho até dezembro, será a primeira vez em 14 anos que isso acontece.
“No resto do mundo, o Brasil tem que concorrer com as exportações de países europeus e chineses, que são muito mais competitivos. No mercado argentino, temos a preferência da Tarifa Externa Comum (TEC), que garante um mercado protegido para o produto brasileiro. A TEC, ao contrário do que muita gente diz, não é um obstáculo na negociação de acordos do Brasil. É uma proteção para a nossa ineficiência”, conclui Gonçalves.