O G-20 aprovará hoje um pacote de recursos de US$ 1,150 trilhão para restabelecer o fluxo de créditos para os países emergentes e em desenvolvimento, duramente afetados pela crise global, revelou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Os líderes reunidos hoje em Londres deverão concordar em aumentar substancialmente o volume de dinheiro do Fundo Monetário Internacional e outras instituições financeiras multilaterais, para socorrer esse grupo de países visando recapitalizar bancos, financiar exportações, rolagem de dívida, infraestrutura e apoio social.
O G-20 nota que os países emergentes e em desenvolvimento, que têm sido o motor do recente crescimento global, agora enfrentam choques que ameaçam sua estabilidade e se propagam sobre a economia internacional, o que torna imperativo que o fluxo de crédito para eles seja reativado.
“Estamos falando de mais de US$ 1 trilhão, não é pouca coisa”, afirmou Mantega. Segundo o ministro, o FMI terá mais recursos de US$ 250 bilhões para uma linha de crédito ampliada (New Arrangement Borrow). Outros US$ 250 bilhões virão com emissão de Direitos Especiais de Saque (DES), a moeda do Fundo, uma alocação que pode dar uma infusão imediata aos países emergentes e tranquilizar os mercados sobre sua capacidade de crédito.
Mantega disse que também países estão emprestando bilateralmente para o FMI. O Japão concordou em fornecer US$ 100 bilhões, a União Europeia outros US$ 100 bilhões e a Noruega US$ 40 bilhões, pelo momento.
O pacote será complementado através do Banco Mundial, com recursos próximos de US$ 200 bilhões para reativar o comércio. Fontes de diferentes países, porém, confirmam que o montante deve ficar mesmo próximo dos US$ 250 bilhões, dividido em três partes, incluindo um fundo de liquidez e recursos das agências de crédito a exportação dos países ricos.
Os países mais pobres também receberão ajuda, por um pacote de proteção social, investimentos em segurança alimentar e também através do Vulnerability Financing Network, do Banco Mundial.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que o Brasil considera contribuir para a campanha do FMI para assistir os países atingidos pela crise, para reativar a economia global. Mas disse que isso deve ser feito de maneira a não reduzir as reservas internacionais do país.
“O Brasil está disposto a participar, mas temos que ver a melhor maneira e adaptar a novas regras do jogo”, acrescentou Mantega. “Não podemos trabalhar com as velhas regras, o Brasil quer ser protagonista, e o dinheiro tem que ser alocado preferencialmente para os países emergentes”. A participação pode vir através de capitalização convencional do FMI, que é a preferência dos EUA, ou pelos Direitos Especiais de Saque (DES), a preferência brasileira. Ou ainda em bônus, como os japoneses estão fazendo.
O ministro Celso Amorim ressalvou que o montante de mais de US$ 1 trilhão “são recursos novos para combater a crise globalmente, mas estavam em colchetes (no comunicado final)”.
O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, moderou expectativas sobre os resultados do G-20, hoje, dizendo que há muitas questões envolvendo a redistribuição de poder e que não podem ser resolvidas rapidamente.
Os crédito dos bancos estrangeiros aos emergentes e em desenvolvimento alcança atualmente cerca de US$ 4 trilhões. O Instituto de Finanças Internacionais (IFI), entidade dos bancos, estima que somente uma pequena fração tem risco. Apesar disso, sua previsão mais recente era de que os empréstimos bancários para essas economias declinarão para cerca de US$ 130 bilhões este ano, comparado a US$ 400 bilhões em 2007 e US$ 245 bilhões em 2008.
No meio do enfraquecimento dos grandes bancos internacional, enfrentando crescentes perdas, ativos ilíquidos e deterioração das carteiras de empréstimos, restaram assim as organizações multilaterais para socorrer os emergentes.
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Khan, tem alertado sobre o risco de revoltas sociais em vários países mais afetados pela recessão, e conta como certo que mais nações vão buscar ajuda do Fundo.