Maria das Graças Foster, que toma posse na presidência da Petrobras
no próximo dia 13, deverá dirigir a estatal com mão de ferro e vai
promover uma arrumação geral, na opinião de executivos do setor ouvidos
pelo GLOBO. Atual diretora de Gás e Energia da companhia e um nome de
absoluta confiança da presidente Dilma Rousseff, Graça — como é
conhecida — assumirá o lugar de José Sergio Gabrielli, há quase sete
anos no cargo, em mudança que será anunciada na reunião do Conselho de
Administração da Petrobras, prevista para o dia 9 de fevereiro.
Segundo
uma fonte do setor, uma das primeiras ações de Graça será alinhar a
atuação das diretorias, que atualmente trabalham de forma independente.
Com seu estilo duro e exigente, que cobra resultados de seus
subordinados, Graça deverá ter uma posição mais afinada com o governo
federal, principalmente em relação aos preços dos combustíveis, que vêm
sendo usados na estratégia de controle da inflação. Gabrielli sempre
teve sérios atritos com Dilma ao ter seus pedidos de reajustes
sistematicamente negados.
— Hoje, cada diretoria é um verdadeiro
feudo, cada uma vai para um lado, conforme o partido político que tem
apoio. Acredito que com Graça as diretorias vão voltar a trabalhar
juntas, mais alinhadas — disse um executivo.
Gabrielli, por sua
vez, deve assumir uma secretaria no governo de Jaques Wagner (PT-BA),
seu padrinho político, depois de passar por uma quarentena. Ontem,
Gabrielli disse apenas que cabe ao Conselho nomear a diretoria, assim
como cabe ao governador nomear seu secretariado.
— A pauta da
próxima reunião do conselho ainda não está definida. Não tenho nada a
comentar — afirmou Gabrielli ao GLOBO, por telefone.
Gabrielli acirra disputa na Bahia
Nos
bastidores, Dilma já tinha manifestado o desejo de fazer essa mudança
desde a transição de governo, no fim de 2010. Mas recuou na ocasião,
depois de uma pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A
presidente só bateu o martelo depois de consultar Wagner. Os dois se
encontraram no início deste ano na Base Naval de Aratu, na Bahia, onde
ela passou o feriado de Ano Novo. O governador baiano também esteve em
Brasília recentemente. Wagner já vinha defendendo que Gabrielli deveria
se incorporar ao seu governo para ter uma presença mais constante na
política baiana — para tentar consolidar uma candidatura ao Palácio de
Ondina, sede do governo estadual, em 2014.
A gestão de Gabrielli é
bem avaliada no setor sob o ponto de vista de relações públicas, tanto
no país quanto na área internacional, mas foi muito criticada pelo
mercado por promover a bilionária capitalização em 2010, para in$na
exploração do pré-sal. Isso porque o governo ampliou significativamente
sua participação na companhia, diluindo a dos minoritários.
ara o
lugar de Graça está sendo esperado um nome interno, entre os gerentes da
área. Também é analisada a possibilidade de mudança em mais alguma
diretoria da Petrobras. São seis ao todo, Exploração & Produção, Gás
e Energia, Engenharia, Abastecimento, Financeira, e Internacional, que
têm as forças políticas divididas entre as várias alas do PT e do PMDB.
Entre as substituições cogitadas, está a de Guilherme Estrela, que ocupa
a de Exploração. Outra troca seria na Internacional, hoje ocupada por
Jorge Zelada, que tem o apoio do PMDB.
Alguns petistas preferiam que a troca fosse em 2013
Ontem,
um interlocutor da presidente Dilma lembrava que a relação $ela e Graça
é muito antiga, e anterior ao governo Lula. As duas se conheceram
quando Dilma era secretária de Energia do Rio Grande do Sul, no governo
Olívio Dutra (PT). Na ocasião, Graça, engenheira química de formação,
era gerente da área de Gás e as duas desenvolveram parcerias
administrativas. Quando assumiu o Ministério de Minas e Energia no
governo Lula, Dilma chamou Graça para ser a Secretária de Petróleo e Gás
da pasta. Quando virou chefe da Casa Civil, Graça ocupou novos cargos
na Petrobras: primeiro assumiu a presidência da Petroquisa, depois o
comando da BR Distribuidora, e, em 2007, passou a ser a poderosa
diretora de Gás e Energia da Petrobras.
A saída de Gabrielli
antecipa uma disputa interna no PT da Bahia pela $ão de Wagner.
Gabrielli deverá ganhar uma secretaria de visibilidade no governo
baiano, já que pelo menos três outros pré-candidatos já estão em campo.
Pode até ser criada uma secretaria específica de Minas e Energia. Mas,
internamente, existe uma avaliação de que este não era o melhor momento
para ele se afastar da companhia.
O ideal, do ponto de vista de
alguns petistas, teria sido ele deixar a empresa somente em 2013, mais
perto das eleições. No comando da Petrobras, avaliam seus companheiros
de partido, ele teria mais visibilidade e força, e um caixa de bilhões
para fazer investimentos, inclusive na Bahia. Era essa a estratégia
política de Wagner e de setores do PT. Mas não combinava com a decisão
da presidente Dilma.