O Fundo Monetário Internacional (FMI) pode estar tão consciente de ter dado maus conselhos aos países necessitados no passado que não está lhes oferecendo orientação suficiente agora.
A instituição de crédito, sediada em Washington, está combatendo a pior crise financeira de seus 64 anos de história com mais de US$ 55 bilhões em empréstimos para países que vão desde o Paquistão até a Sérvia. Ao mesmo tempo em que o fundo se prepara para emprestar ainda mais, ele está abandonando sua prática – executada com efeitos colaterais adversos uma década atrás na Ásia – de exigir que os governos reformulem seus sistemas econômicos em troca de ajuda.
O risco é de que, sem exigências mais rígidas para a concessão de empréstimos, os países tomadores não reformarão suas economias em derrocada, deixando para os investidores a tarefa de fiscalizar a disciplina – e adiar a recuperação – ao fugir dos títulos e moedas desses países. Entre as economias cujos mercados poderão ser os mais vulneráveis a essa atitude estão as do Leste Europeu, como a Letônia e a Hungria, disseram a Brown Brothers Harriman & Co. e o Royal Bank of Scotland Group Plc (RBS).
Oscilação do pêndulo
“O pêndulo deve estar indo longe demais”, diz Claudio Loser, ex-diretor do departamento para o Hemisfério Norte do fundo e atualmente pesquisador-convidado do Diálogo Interamericano em Washington. “Havia a forte percepção de que o FMI exigia demais dos países. Agora existe o perigo maior de que o fundo tenha ido longe demais na direção de não fixar o número suficiente de condições.”Pouco mais que um ano atrás, o FMI – que realiza seu encontro de abril em Washington no próximo dia 25 – carecia tanto de relevância quanto de recursos. Agora, seu poder de concessão de empréstimos está sendo triplicado para US$ 750 bilhões pelo Grupo dos 20 (G-20). O G-20 também concordou em dar ao FMI outros US$ 250 bilhões em Direitos Especiais de Saque (DES), uma linha de crédito de saque a descoberto para seus 185 países-membros.
“O FMI precisa se adaptar”, disse Dominique Strauss-Kahn, o diretor executivo do fundo, em discurso de 16 de abril. “Sua política de concessão de crédito precisa se tornar mais flexível e mais bem ajustada às circunstâncias dos países.”
Menos metas
O fundo disse no mês passado que fixaria menos metas com as quais os países deveriam se comprometer em troca de ajuda e que poria menos ênfase nas reformas estruturais, como a reformulação de seus sistemas bancário ou fiscal. A instituição também atenuou as condições para a concessão de uma linha de crédito lançada em outubro do ano passado, que agora atrai o interesse do México e da Polônia.
“Há muito dinheiro mas pouca pressão para as economias se ajustarem”, diz Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI e atual professor da Universidade de Harvard, campus de Cambridge, Massachusetts. “É muito mais gostoso ser Papai Noel do que Tio Patinhas.”
Mercado aquecido
Até agora os pacotes de ajuda do FMI aqueceram os mercados de algumas economias emergentes. O peso do México subiu 8% no câmbio com o dólar, e o zloty da Polônia se valorizou 1,1% em relação ao euro desde que os países disseram que vão procurar linhas de crédito do fundo monetário.
Se os governos não melhorarem suas políticas fiscais, no entanto, os investidores vão privar suas economias de capital e punir seus bônus, ações e moedas, diz Win Thin, estrategista cambial sênior da Brown Brothers Harriman de Nova York.
“Não podemos imaginar os investidores voltando aos países de mercados emergentes dotados dos piores fundamentos econômicos, mesmo se a crise mundial continuar a amainar”, diz Thin.