Mantega fala em “arma oculta” e defende financiamento de longo prazo, além de maior endividamento das famílias.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem em Nova York que o governo brasileiro poderá adotar novas medidas para conter a desvalorização do dólar frente ao real. É que o governo estaria preocupado com a eficácia do aumento da alíquota do IOF de 2% para 4% sobre aplicações de estrangeiros em renda fixa, adotado no dia seguinte à realização do primeiro turno das eleições.
Mantega frisou, no entanto, que ainda é cedo para avaliar o impacto da medida.
O ministro defendeu mais uma vez uma ação coordenada dos países do G-20 para enfrentar a questão cambial, no próximo encontro do grupo na Coreia do Sul.
Perguntado sobre qual seria a arma contra a desvalorização do dólar frente ao real, caso a alta da alíquota do IOF não surtisse efeito, Mantega respondeu que seria uma “arma oculta”: — Não anunciamos medidas de natureza cambial com antecedência, mesmo porque, se fizéssemos isso, poderia surtir um efeito contrário. Nesse momento, estamos observando pra ver se há uma estabilização do mercado cambial. Se não houver, nós estaremos pensando em outras medidas.
Novas medidas podem sair dentro de 20 a 30 dias O ministro disse que as alternativas vêm sendo discutidas no Banco Central, no BNDES, na BM&F e até na Febraban (entidade que representa os bancos), e elas podem vir a ser anunciadas dentro de 20 a 30 dias. Uma das alternativas seria fortalecer os investimentos de longo prazo do setor privado: — A redução do papel do BNDES será um bom sinal, porque estará sendo aberto espaço para o setor privado. O BNDES vai ter menos recursos nos próximos anos.
Sobre a questão cambial, o ministro disse que a cobrança do IOF de 2% deu bons resultados quando iniciada, há um ano. Só que a entrada de grande volumes de dólares via operação de capitalização da Petrobras ainda não permitiu aferir se o aumento do IOF foi ou não eficaz.
Ministro teme economia fraca durante 10 a 20 anos Mantega insistiu na necessidade de uma ação coordenada do G-20, como já havia feito na reunião anual do FMI, que ocorreu em Washington, no fim da semana passada: Para ele, a origem do problema cambial está no baixo nível de atividade econômica nos países avançados, no baixo nível de demanda dos mercados consumidores dos EUA e da Europa. O ministro disse não temer uma recessão em W, com novo mergulho, mas sim um panorama econômico em forma de L nesses países, com recuperação lenta ao longo de dez, 15 ou até 20 anos. E disse que a expansão monetária pelo governo Obama não vai resolver o problema.
Em sua apresentação a investidores e analistas estrangeiros, o ministro fez um balanço positivo da economia brasileira. Ele disse que o país tem um dos menores déficits fiscais do G-20.
O ministro disse também que há muito espaço ainda para o crescimento do endividamento das famílias brasileiras, principalmente no setor imobiliário.
— Há um boom de construção no Brasil e o consumidor está propenso a pensar na casa própria. Não estou estimulando o endividamento, mas mostrando que, se quiser, o consumidor brasileiro pode se endividar e ainda permanecerá em condições sólidas, seguras.