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14 de junho de 2011Os preços cobrados pelos serviços de estacionamento explodiram nas grandes cidades e já subiram neste ano até maio mais que o dobro da inflação do período. Crescimento da frota de veículos e ganhos de renda da população aumentaram a procura por esse tipo de serviço, cujo preço hoje foge de qualquer parâmetro considerado razoável.
Estacionamentos localizados nos Jardins, região nobre da capital paulista, chegam a cobrar R$ 35 por uma hora de permanência de um carro popular. Com esse dinheiro, é possível ir e voltar, de táxi, da Avenida Sumaré, na zona oeste, até a Avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, na zona sul, um percurso de 12 quilômetros.
Entre janeiro e maio deste ano, os preços dos estacionamentos subiram em média 7,63% em cinco regiões metropolitanas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado é 105,7% maior que a inflação oficial do País medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mesmo período, que foi de 3,71%.
“A maioria dos serviços está subindo muito porque o poder aquisitivo da população aumentou”, diz a pesquisadora do IPCA, Irene Machado. No caso do serviço de estacionamento, ela ressalta que a demanda cresceu em razão do aumento da frota de veículos.
Levantamento do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) indica que a frota brasileira de veículos, que inclui automóveis e comerciais leves, cresceu 8,4% no último ano, com a entrada em circulação de 2,3 milhões de carros. A maior parte da frota está concentrada nas grandes regiões metropolitanas do País. Só o Estado de São Paulo reúne 35% dos veículos.
“A procura é maior do que a oferta e o problema atual é a falta de vagas nas regiões mais adensadas”, afirma Marcelo Gait, presidente do Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo (Sindepark), que reúne 65 empresas do setor e 1.500 estacionamentos espalhados pelo Estado.
Gait nega que o preço do serviço tenha subido acima da inflação. “Com a pujança do setor imobiliário, existem pouquíssimos terrenos disponíveis e os poucos existentes sofreram reajustes altíssimos de locação, consequentemente nestas áreas houve aumento de tarifas.”
Terrenos. “Nos últimos 25 anos nunca vi terreno urbano cair de preço”, afirma o diretor de Economia do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Grandes Estruturas do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Eduardo Zaidan.
Ele observa que outros fatores contribuíram para a escassez de terrenos, como as leis que restringem o aproveitamento do solo urbano, o adensamento da população nas grandes cidades e, especialmente agora, o ganho de renda do consumidor, que permite que ele use o transporte individual no lugar do coletivo. “O fascínio pelo carro e a sensação de mobilidade que ele proporciona são inegáveis.”
Qualidade. Além de caro, o serviço de estacionamento deixa a desejar. Dados da Fundação Procon de São Paulo mostram que as reclamações cresceram 21% no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2010: de 138 em 2010 para 167 reclamações em 2011. Entre os principais motivos alegados nas reclamações estão danos materiais e dúvidas sobre cobrança.
Para o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), a situação continuará assim (preços altos e aumento das reclamações dos consumidores) até que haja uma regulamentação dos preços dos estacionamentos.
Lucas Cabette, do departamento jurídico do Idec, lembra que em 2009 houve a instituição de uma lei em São Paulo que proibia a cobrança de estacionamento em shoppings e hipermercados, desde que o cliente tivesse consumido no estabelecimento. Poucos dias depois, o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu a lei.
Em seguida, o Congresso Nacional decidiu que qualquer regulamentação sobre preços de estacionamentos deve ser em âmbito nacional. “E não dá para prever quando esse assunto entrará na pauta do Congresso”, comenta Cabette.
A Estapar, que administra 650 estacionamentos no País ou 150 mil vagas, não respondeu às solicitações da reportagem. A Multipark, que conta com 200 estacionamentos, também não respondeu aos pedidos de entrevista do Estado. A Brasilpark, que administra 52 áreas em São Paulo, preferiu não participar da reportagem. “Somos uma rede pequena e o nosso reajuste de preço não impacta a média do mercado”, disseram, por telefone.
