Projeto permite prisão antes do trânsito em julgado de sentença
16 de março de 2009Desenvolvimento Econômico discute saídas para a crise econômica
18 de março de 2009A extensão com que a recessão econômica espalhou seus tentáculos a quase todas as áreas do mercado de trabalho foi graficamente ilustrada por planos do governo de gastar 40 milhões de libras esterlinas para ajudar profissionais e executivos dispensados a encontrar trabalho. O plano anunciado na semana passada por James Purnell, secretário da Previdência e do Trabalho do Reino Unido, ajudará até 350 mil pessoas sem experiência recente com procura de trabalho, oferecendo-lhes uma ajuda especial nas centrais de emprego. Entre eles poderão ser vistos alguns poucos advogados e funcionários de áreas jurídicas da City londrina – o centro financeiro de Londres – que passaram a sofrer na recessão. Cerca de 2.727 advogados e funcionários de departamentos jurídicos perderam os seus postos de trabalho ou estão mantendo consultas de desligamento nas 200 maiores bancas do Reino Unido, de acordo com uma avaliação abrangente que está sendo realizada pela revista setorial “The Lawyer”.
Os números podem ser baixos na comparação com as reduções de pessoal ocorridas em bancos de investimento, mas, mesmo assim, são desoladores, especialmente para o chamado “magic circle” (círculo mágico) das firmas de advocacia de elite, acostumadas com lucros recordes e altos salários. Os que correm maior risco são advogados associados iniciantes e do corpo jurídico administrativo, contratados durante os tempos de expansão para ajudar a lidar com uma crescente carga de trabalho alimentada por uma expansão nos bancos de investimento, que desde então comprovou ter sido construída sobre areia. Mas os sócios também podem ser vulneráveis aos efeitos mais amplos da recessão.
A edição do início de março da “The Lawyer” informa que o escritório Allen & Overy, um dos integrantes do “magic circle”, “deverá reduzir drasticamente sua principal equipe de finanças alavancada, após uma escassez no setor de aquisições ter levado os mercados alavancados a seu mais baixo nível histórico”. Entre as vítimas potenciais, de acordo com a revista, estavam cinco sócios. Até recentemente, as finanças alavancadas representaram uma força motriz na área bancária do Allen & Overy, diz a revista. A banca anunciou recentemente seus planos para congelar as taxas cobradas dos clientes e de reduzir em quase 10% o número de seu pessoal de suporte ao redor do mundo, os advogados assalariados e o número de sócios que detêm e administram o negócio. A Allen & Overy informou que estava promovendo os cortes “com pesar”, acrescentando que a perda de 450 postos de trabalho aconteceria em Londres. Wim Dejonghe, sócio gerente global, disse: “No ambiente de mudança veloz em que atuamos, a realidade é que simplesmente não há trabalho suficiente para manter nosso pessoal suficientemente ocupado e não vemos esse quadro se alterando no curto a médio prazo”. As propostas ocorrem na esteira de programas de restruturação semelhantes, anunciados pelas bancas Clifford Chance, Linklaters e Freshfields Bruckhaus Deringer, também membros do “magic circle”.
O crescimento na atuação jurídica proveniente dos mercados financeiros e de dívida sempre esteve sujeito a cortes de pessoal quando estes se movessem na direção contrária. A gravidade da retração, porém, indica que a demanda deverá se manter bem abaixo dos níveis anteriores, mesmo quando os mercados se recuperarem. O que impressiona mais dos que as dispensas, dizem advogados sêniores, é o crescente consenso de que a prática jurídica – que nos 100 anos passados foi um dos modelos financeiros mais estáveis da City – não voltaria jamais a ser o que foi. “Podemos estar enfrentando uma verdadeira mudança de paradigma”, diz Ted Burke, executivo-chefe da Freshfields Bruckhaus Deringer ao “Financial Times” no mês passado.
Depois de terem contratado uma legião crescente de advogados iniciantes durante os anos de expansão – muitas vezes a salários extremamente inflados – reina uma preocupação real de que as multinacionais, bancos de investimento e outros clientes tradicionais do Reino Unido simplesmente não necessitarão da mesma gama de serviços jurídicos quando a economia se recuperar. É improvável que as recentes reduções de pessoal, anunciadas pelas firmas do “magic circle” e outros advogados destacados, sejam de curto prazo. Em vez disso, elas podem representar um pensamento estratégico de longo prazo. A estratégia de “novo mundo” do Linklaters, elaborada para assegurar que a firma tenha o formato adequado de longo prazo para fazer frente às demandas mutantes do mercado, é um caso em questão. Simon Davies, sócio-diretor do Linklaters, diz: “Concluímos que levará muito tempo para o mercado se recuperar”. Até agora, os sócios graduados se apressaram em enxugar as áreas mais duramente atingidas pelo aperto do crédito, como imóveis e financiamento estruturado. Eles reconhecem, porém, que os cortes pretendidos e o remanejamento de funcionários para áreas mais movimentadas só conseguirão alcançar um resultado limitado, mesmo para as firmas melhor administradas.
