A entrada de dólares para aplicações financeiras caiu 63,1% na comparação com setembro após o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para 4% no início de outubro. Analistas avaliam, porém, que queda teria pouca relação com o tributo e seria explicada pelos números “inflados” do mês passado, quando a Petrobras fez o maior aumento de capital da história.
Para o mercado, o juro elevado continuará atraindo estrangeiros ao Brasil. Tanto que, na média diária do período com a nova tributação, o País recebeu 436% mais dólares que em agosto, antes da oferta da estatal e quando o IOF era de 2%.
Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que, na comparação com setembro, o fluxo de dólares caiu drasticamente após a alota do IOF para aplicações em renda fixa. Entre 5 e 8 outubro, o País recebeu US$ 293 milhões na média a cada dia pela conta financeira, onde são registradas transações para compra e venda de títulos de renda fixa, ações, investimentos produtivo, remessa de lucro e empréstimos.
O valor é bem menor que os US$ 796 milhões da média diária de setembro.
“Em setembro, o resultado veio fora do comum porque houve ‘contaminação’ pelo aumento de capital da Petrobras. Por isso, há essa queda grande em outubro. Se tirarmos o fato extraordinário, avaliamos que o impacto do IOF é pequeno porque os juros ainda são muitos elevados no Brasil”, diz a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thais Zara.
Alvo preferencial. O entendimento da economista é sustentado com os números do BC. Em agosto – mês sem influência dos dólares atraídos pela Petrobras e antes do aumento do IOF -, o Brasil recebeu média de US$ 54,7 milhões a cada dia pela conta financeira. Em julho, o valor foi comparável: US$ 67,7 milhões. Portanto, o ingresso de dólares no pós-IOF está 436% maior se a comparação for feita com agosto e 333% superior a julho. Em junho e maio, o País havia perdido dólares, quando se leva em conta a movimentação financeira.
Thais Zara explica que o estrangeiro continua sendo atraído ao Brasil porque o País paga um dos maiores juros reais, acima da inflação, do mundo. Já as economias maduras, que normalmente são a origem desse capital, pagam taxas muitos próximas de zero. Nas últimas semanas, esse movimento ficou ainda mais evidente porque a aversão ao risco diminuiu e muitos investidores passaram a procurar aplicações mais lucrativas.
“Nessa busca global por rentabilidade, o Brasil continua sendo um dos alvos preferencias”, diz a economista. “E essa atratividade continua mesmo com a alíquota de 4% do IOF.”
O gerente de câmbio da Fair Corretora, Mário Battistel, tem opinião semelhante. Ele explica a queda do ingresso de dólares na comparação com setembro pela base de comparação distorcida pela Petrobras.
“Teoricamente, o mercado deveria mudar de tendência após o fim da operação da Petrobras. Mas não aconteceu porque o diferencial de juros é muito grande e temos a desvalorização do dólar frente a todas as outras moedas, fato que nenhum IOF ou leilão diário para compra de dólar vai mudar”, diz Battistel.