Os governos e bancos centrais da Europa deveriam considerar comprar dívidas corporativas para impedir as empresas de irem à falência durante a recessão, exortou ontem o líder da federação empresarial da União Europeia.
A proposta de Ernest-Antoine Seillière, presidente da Business-Europe, ressaltou a ansiedade que reina entre as empresas em relação a garantias de acesso ao crédito, num momento em que a Europa atravessa sua mais grave crise econômica desde a Segunda Guerra Mundial.
Os bancos centrais e governos da UE já comprometeram centenas de bilhões de euros em programas destinados a salvar os sistemas bancários nacionais e a restaurar os fluxos de crédito aos níveis anteriores à recessão.
Além disso, governos dos 27 países-membros do bloco adotaram pacotes de incentivo fiscal que, aliados a aumentos automáticos induzidos pela recessão nos gastos públicos (como benefícios com seguro-desemprego), poderão custar de 3,3% a 4% do PIB da UE em 2009-2010.
Apenas o Reino Unido, porém, adotou a sugestão de Seillière, de que governos ou bancos centrais nacionais deveriam tomar a medida radical de assumir dívidas de empresas privadas não financeiras. O Banco da Inglaterra (BC britânico) instituiu linha de crédito para a aquisição de ativos na semana passada.
\”Nos meses difíceis adiante, deveria ser uma preocupação permanente dos formuladores de política assegurar que empresas viáveis possam ter acesso a financiamento e não solicitem falência como resultado das limitações de liquidez de curto prazo\”, disse Seillière.
\”Medidas excepcionais adicionais devem ser consideradas… por exemplo, os bancos centrais e governos poderiam explorar opções de programas temporários para comprar notas promissórias e outros instrumentos de dívida diretamente das empresas\”.
Este tipo de programa é relativamente fácil de ser implementado no Reino Unido, pois o governo britânico pode subscrever o risco de crédito que o Banco da Inglaterra assume quando compra ativos corporativos com a intenção de reduzir os custos de tomada de empréstimos.
Na zona do euro, uma política semelhante é mais complicada pelo fato de 16 Tesouros nacionais estarem postados atrás do Banco Central Europeu (BCE). Ewald Nowotny, o presidente do banco central austríaco, disse ao \”Financial Times\” que essas medidas eram \”muito mais difíceis\” de implementar do que no Reino Unido ou nos EUA.
Apesar de indicar que as medidas defendidas por Seillière dificilmente seriam introduzidas pelo Banco Central Europeu, \”também devemos pensar em usar instrumentos adicionais [para taxas de juros]\”, disse Nowotny.