As declarações do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, foram determinantes para a piora do humor externo, atingido os negócios no Brasil, em especial no mercado de câmbio. Draghi anunciou a redução das projeções de crescimento para a região, dizendo que o crescimento continuará modesto e com inflação em baixa. A moeda americana já operava em alta no Brasil desde o início dos negócios, uma vez que parte dos agentes do mercado de câmbio viu sinais conflitantes no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que na quarta-feira à noite elevou a taxa básica em 0,5 ponto percentual, para 11,75% ao ano.
“O dólar ganhou tração com interpretações divergentes do comunicado dúbio do Banco Central. Alguns agentes financeiro domésticos já projetam altas menores da Selic nas próximos reuniões” afirmou, em relatório a clientes, João Paulo de Gracia Corrêa, economista da Correparti Corretora de Câmbio.
Também pesa para a valorização do dólar, e de outras moedas fortes, ante o real a falta de sinalização de Draghi em relação a um pacote de estímulos de curto prazo.
— Mesmo com a elevação da Selic, estamos vendo uma saída de recursos de estrangeiros. Eles podem estar reduzindo a exposição no mercado acionário brasileiro — avaliou Mário Mônaco, diretor da AGK Corretora de Câmbio.
O comunicado do BC, além de afetar o câmbio, também mexeu no mercado de juros. Os contratos futuros fecharam em queda, uma vez que agora se espera que o aperto monetária seja menor. Os contratos com vencimento em abril de 2015 fecharam a 11,95%, ante 12,10%.
BOLSAS EM QUEDA
Além do mercado de câmbio, as perspectivas em relação à economia europeia ajudaram a derrubar os principais índices da região e acentuou a queda no Brasil.
— Essa notícia piorou o humor dos agentes dos mercados financeiros. Já não tinha uma razão para a Bolsa brasileira subir e o lado externo acabou pesando de forma negativa — afirmou o operador de uma corretora local.
No exterior, os índices europeus passaram a operar em queda após as declarações do presidente do BCE. O DAX, de Frankfurt, fechou em queda de 1,21% e o CAC 40, da Bolsa de Paris, teve recuo de 1,55%. Já em Londres, o FTSE 100 caiu 0,55%. Nos Estados Unidos, o S&P 500 está praticamente estável, com leve recuo de 0,03% e o Nasdaq opera em alta de 0,15%. Já o Dow Jones está praticamente estável, com leve queda de 0,02%. As Bolsas americanas encerram os negócios às 18h (horário de Brasília).
MOODY’S REBAIXA NOTA DA PETROBRAS
As ações da Petrobras estiveram entre as maiores quedas do Ibovespa. A estatal teve a sua nota (rating) de crédito individual rebaixado na noite de quarta-feira pela agência de classificação de risco Moody’s. Essa nota de gestão, sem suporte do governo, foi rebaixada de baa3 para ba1. Segundo a agência, o motivo foi “a fragilidade da governança corporativa da petroleira e sua capacidade de evitar prejuízo aos investidores causados por fraudes”. A nota global foi mantida em baa2, com perspectiva negativa, ou seja, sem alterações e ainda acima do limite do grau de investimento.
A avaliação de analistas é que a decisão da Moody’s pesou porque veio em um momento sem dados ou notícias econômicas positivas. Luiz Roberto Monteiro, operadora da Renascença Corretora, lembrou que o preço do petróleo continua em quedam afetando as petrolíferas do mundo todo. Queda também no minério de ferro, que afeta a Vale, uma das principais empresas da Bolsa brasileira.
— O Ibovespa segue nesse cenário de queda. O mercado está aguardando o plano de governo da nova equipe econômica — afirmou. Na quarta-feira, a Bolsa fechou em alta, interrompendo uma sequência de cinco quedas consecutivas.
Segundo Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor, de fato não há dados econômicos que ajudem na alta do Ibovespa e, para ajudar, o noticiário é negativo em relação às duas das principais empresas do índice (Vale e Petrobras).
— Os bancos são beneficiados pela alta dos juros pelo Banco Central, anunciada na quarta-feira à noite, mas isso já era esperado e já estava no preço das ações — explicou.
As ações preferenciais da estatal (sem direito a voto) operavam em queda de 3,92% e as ordinárias (com direito a voto) recuaram 4,75%. No caso da Vale, a queda foi um pouco menor. Os papéis preferenciais recuaram 1,64% e os ordinários tiveram queda de 1,27% – o Bank of America reduziu a recomendação da mineradora brasileira de neutro para venda, o que contribuiu para a queda. O setor bancário, que possui a maior participação no Ibovespa, também operou em terreno negativo. As ações do Itaú Unibanco tiveram desvalorização de 1,49% e as do Bradesco registraram variação negativa de 2,13%. O Banco do Brasil caiu 1,33%.
Já no campo positivo, a Usiminas, como empresa exportadora, foi beneficiada pela alta do dólar. A ação da siderúrgica subiu 1,43%. Já as ações da Gol subiram 2,39%, a maior alta do pregão entre as ações do Ibovespa. A queda do petróleo ajuda a reduzir os gastos da empresa aérea com combustível, o seu principal custo.