Apesar de integrar a base aliada do governo, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) não apoia a decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros, que subiu de 10,75% para 11,25% ao ano. O aumento foi anunciado no início da noite de quarta-feira (19). Para Dornelles, isso não era necessário porque as medidas de restrição ao crédito adotadas no final do ano passado, visando combater a inflação, “já resultaram na elevação da taxa de juros no mercado livre”.
– A elevação da taxa básica agora foi um grande erro – opinou o senador.
Dornelles argumenta que as medidas adotadas pelo Banco Central no ano passado – como o aumento do depósito compulsório – não apenas são suficientes como também “não têm qualquer impacto sobre as contas públicas, ao contrário do que ocorre quando a taxa básica sobe”. Um dos objetivos do depósito compulsório (instrumento que obriga os bancos comerciais a depositarem parte de seus recursos junto ao Banco Central) é reduzir a oferta de crédito e, consequentemente, o nível da inflação.
O senador ressaltou que, além de provocar a expansão da dívida pública, a elevação da taxa básica impulsiona ainda mais a valorização do real em relação às moedas estrangeiras. O problema cambial também está entre as preocupações do governo, devido a seus impactos sobre a balança comercial, a indústria e o fluxo de capitais especulativos no país.
Austeridade
Ao lembrar que o governo vem anunciando medidas de contenção de gastos, Dornelles afirmou que o Banco Central poderia ter esperado pelos efeitos dessas medidas (de caráter fiscal) e também da própria restrição ao crédito (de caráter monetário) para só então decidir sobre um eventual aumento na taxa básica.
– Além disso, a decisão de ontem [quarta-feira] tem um efeito menor sobre a taxa de juros do mercado do que o provocado pelo depósito compulsório – avaliou.
Assim como em outras ocasiões, a elevação da taxa básica recebeu, de um lado, o apoio de diversos representantes do mercado financeiro, mas, de outro, foi criticada por representantes da indústria, do comércio e de associações de trabalhadores.
O senador Adelmir Santana (DEM-DF), também presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), reconheceu que o aumento era esperado, mas reiterou que “isso não deixa de ser desanimador para o setor produtivo”. Ele recordou que a taxa básica do Brasil está entre as mais altas do mundo – em termos reais, ou seja, descontando-se a inflação.
– E olha que estamos falando da taxa básica, que é menor que as outras taxas de juros praticadas no mercado brasileiro – observou.
Tanto Adelmir Santana quanto Demóstenes Torres (DEM-GO) reiteraram a necessidade de que haja austeridade fiscal – e, portanto, corte de gastos – por parte do governo. Demóstenes disse que “todo aumento nos juros é péssimo, mas há uma lógica na decisão de quarta-feira, que é a de evitar a alta da inflação”.
– Vamos tolerar o aumento da taxa neste início de governo, mas alertando que isso se deve principalmente à gastança tremenda que houve no governo passado [de Luiz Inácio Lula da Silva] – declarou Demóstenes.