Em depoimento de delação premiada, revelado na nova fase da Operação Lava-Jato da Polícia Federal, o ex-gerente de engenharia da Petrobras Pedro Barusco revelou que, durante uma movimentação de cerca de US$ 6 milhões oriundos de propinas para contas no banco suíço Lombard Odier, o ex-diretor de serviços da estatal Renato Duque perdeu o recurso enquanto lidava com um agente brasileiro do banco, citado apenas como “Roberto”. Ele teria encontrado o intermediário durante uma viagem a Paris, onde a instituição financeira tem escritório.
O delator não precisou a data em que ocorreu a movimentação, mas afirma que foi “anos antes” de 2011. De acordo com Barusco, ele mesmo era responsável pela cobrança das empresas envolvidas no cartel, uma vez que Duque era “desorganizado com as questões que envolviam o recebimento de propinas”. Desconfortável em ter de gerenciar o dinheiro do ex-diretor, Barusco viajou a Paris com Duque e entrou em contato com Roberto, que os aconselhou a abrir duas contas passagens no banco suíço.
Barusco, no entanto, afirma ter se incomodado com a falta de informações que Roberto passava sobre as contas. Como, de acordo com o delator, Duque sugeriu que fossem efetivamente depositados os US$ 6 milhões nas contas indicadas pelo agente bancário, Barusco negociou para que o ex-diretor de serviços se apropriasse de todo valor das contas como parte da “cota” das propinas dele. De acordo com o delator, Duque o procurou posteriormente para contar que “Roberto havia sumido e os valores depositados nas duas contas haviam sido perdidos”. Barusco conta que o prejuízo acabou sendo dividido entre os dois a pedido do ex-diretor.
O ex-gerente detalha também na delação como era a divisão de propinas entre ele e Duque. Em contratos em que apenas os dois eram pagos, 60% da propina ficavam com Duque e os 40% restantes, com ele. Já em contratos que contavam com outro operador, 40% eram repassados para Duque e os 60% restantes eram divididos entre Barusco e o terceiro envolvido. O delator afirmou não saber precisamente o valor recebido por Duque enquanto era diretor de serviços da petrolífera, mas destacou que ele recebeu cerca de US$ 97 milhões em subornos relativos a mais de 60 contratos assinados entre diversas empresas e a Petrobras, entre 2005 e 2010.
O advogado de Renato Duque, Alexandre Lopes, negou as declarações de Barusco. De acordo com Lopes, “Pedro Barusco trouxe Renato Duque para o processo, realizando delação falaciosa”.