A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) notificou ontem a Petrobras sobre o vazamento dos resultados do quarto trimestre de 2008, com a circulação da versão preliminar do que a empresa chama de relatório de mercado financeiro aproximadamente às 16h de sexta-feira, antes do encerramento do pregão na bolsa paulista.
No ofício enviado à estatal, o órgão regulador questiona a circulação do documento no mercado e pergunta quantas pessoas na companhia tiveram acesso aos dados sigilosos.
Consultada, a CVM informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comenta investigações em andamento.
A cópia do relatório que analistas tiveram acesso antecipadamente deverá ser encaminhada à autarquia, que assim terá uma prova material para ajudar nas investigações, ao contrário de outras vezes em que apurou esse tipo de vazamento na empresa, como na véspera da compra do controle grupo Ipiranga, em conjunto com Braskem e grupo Ultra.
Embora considerado como preliminar, o documento que vazou trazia, em suas 44 páginas, todas as informações mais relevantes sobre a contabilização das operações anuais de todas as áreas da companhia, assim os principais dados do balanço – como lucro líquido e detalhes como margem do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização.
Algumas partes do texto estavam grifadas em amarelo porque poderiam sofrer alteração e uma marca d’água no fundo de cada página trazia a palavra “preliminar”.
Os grandes números estavam todos no documento, sem os ajustes contábeis que foram feitos ao longo da tarde de sexta-feira, sendo alguns depois da reunião do conselho de administração.
O resultado só foi divulgado oficialmente ao mercado depois das 19h30, quando alguns dos que obtiveram a cópia puderam confirmar a veracidade dos principais números que circulavam.
Apesar de amplamente disseminada entre bancos e corretoras, apenas dois analistas informaram a Petrobras do fato, sendo que apenas um enviou cópia para a companhia por volta das 16h40 da sexta-feira.
Naquele momento, tanto o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, como o diretor financeiro, Almir Barbassa, participavam da reunião com o conselho de administração da companhia, que é presidido pela ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
A ocorrência causou constrangimento na área técnica da Petrobras, onde cerca de 100 pessoas – incluindo tradutores e intérpretes, além dos técnicos das equipes de contabilidade e de relações internacionais e membros da auditoria externa – tiveram acesso às várias versões do documento que começou a ser confeccionado no início da semana passada.
A empresa avalia, segundo fonte ouvida pelo Valor, que não houve problema material de segurança, mas sim um ato premeditado, ao qual cabe “punição exemplar”.
Barbassa, durante teleconferência realizada na terça-feira, mostrou tranquilidade em relação ao ocorrido e não chegou a ser pressionado pelos analistas. “O mais importante é evitar que aconteça de novo, se aconteceu.” A Petrobras decidiu na segunda-feira formar uma comissão interna para investigar a ocorrência, mas o executivo não soube dizer o prazo que terá para concluir os trabalhos.