Depois da euforia do dia anterior, o mercado ontem resolveu ser mais conservador e colocar o pé no freio da alegria. Além da alta de 5,5% do Índice Bovespa na terça-feira, a justificativa para a moderação de ontem foram as apostas bastante desencontradas sobre o nível de corte que o Comitê de Política Monetária (Copom) faria à noite na taxa básica de juros. Ontem, havia palpites para todos os gostos: desde uma redução ultra conservadora para o cenário atual, de apenas 0,75 ponto percentual, até um arroubo de ousadia do Banco Central, com um corte de dois pontos percentuais. Com a redução de um ponto e meio na Selic, as apostas são de que o mercado hoje deva refletir positivamente a decisão.
O Ibovespa passou o dia num sobe e desce absoluto e fechou praticamente estável, em alta de apenas 0,03%, aos 38.804 pontos. “Esse Copom se transformou num tiroteio total de adivinhação”, diz o gestor da Infinity Asset Management, George Sanders. “O Banco Central teria justificativas na ponta da língua para uma redução de apenas um ponto percentual ou menos, assim como boas explicações para derrubar logo três pontos de uma só vez”. Na visão dele e de muitos outros profissionais de mercado, o BC errou em não ter começado antes o processo de afrouxamento monetário e agora se encontra num dilema. “O BC pode resolver ser ousado meio tarde demais, o cenário internacional parece estar melhorando, o que pode significar um processo de recuperação dos ativos financeiros”, explica Sanders.
Independente de estar atrasado ou não, o mercado, assim como a economia real, clamava por uma queda mais vigorosa na Selic e o seu desempenho no “day after” depende do placar da reunião do Copom. “Qualquer placar entre um ponto e meio ou mais deve trazer novas ordens de compra para a bolsa e qualquer coisa abaixo disso deve ser queda das ações na certa”, diz o gestor da Infinity. Seguindo esse raciocínio, o mercado hoje tem fortes motivos para trazer alegrias.
Por mais estranho que pareça, petróleo e Petrobras ontem tiveram destinos opostos, e bem opostos. Enquanto o contrato futuro mais líquido do barril do petróleo do tipo WTI, negociado em Nova York, caiu 6,36%, fechando em US$ 43,99, as preferenciais (PN, sem voto) da estatal subiram 0,51% e as ordinárias (ON, com voto), 0,63%. A favor das ações da Petrobras pesa o provável fluxo de estrangeiros para a Bovespa, com a queda da aversão ao risco nos últimos dias, afirma a analista da Corretora SLW Kelly Trentin.
Resultado fraco
As units (recibos de ações) da América Latina Logística (ALL) caíram ontem 4,71%, a segunda maior queda do Ibovespa. A empresa divulgou resultado e os números vieram abaixo do que os analistas, de forma geral, esperavam. Em relatório, a Link Investimentos afirma que os dados de receita ficaram em linha com as projeções. No entanto, o resultado final ficou muito abaixo em função de impactos com despesas financeiras e as mudanças nos padrões contábeis, que impactam o aluguel dos vagões da companhia.