Estabilidade política no Brasil e alta do petróleo são trunfo para exploração
Os conflitos no Norte da África e no Oriente Médio, onde se concentra a maior parte das reservas mundiais de petróleo, fará com que investidores se voltem para as reservas brasileiras do pré-sal, na avaliação de especialistas do setor. Duas são as razões para esse movimento. Por um lado, a alta do preço do barril de petróleo, que já beira os US$120, tende a tornar os projetos abaixo da camada de sal mais rentáveis. Por outro, a estabilidade política no país é apontada como um trunfo em um cenário internacional cada vez mais conturbado.
Hoje, um dos maiores desafios do pré-sal é seu custo de extração, uma vez que a tecnologia para retirar o petróleo – localizado a até sete quilômetros abaixo do nível do mar – é muito cara. A Petrobras já afirmou que o custo seria da ordem de US$25 o barril, enquanto outras empresas apontam para cerca de US$45 o barril. De acordo com o consultor de petróleo e gás Marcos Felipe Macedo, esse custo ainda é uma incógnita. A única certeza é que, quanto mais elevada a cotação do petróleo, mais rentáveis serão os investimentos.
– Seja qual for esse custo, o momento é excelente para o Brasil desenvolver o pré-sal – destacou Macedo.
As reservas do pré-sal descobertas até agora somam 36 bilhões de barris de óleo equivalente (incluindo petróleo e gás), segundo estimativas da Petrobras e da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Adicionadas às existentes, o Brasil passará a ter 51 bilhões de barris, elevando o país à 9ª posição no ranking mundial de reservas. Hoje, ele está na 20ª.
Esse alto volume de reservas faz do Brasil, ao lado do Oeste da África e das ex-repúblicas soviéticas, a grande fronteira exploratória de petróleo desta década. Nesse contexto, a estabilidade política se torna um importante fator para a decisão de investimentos.
– O Brasil mostrou nos últimos anos que cumpre contratos. Mesmo as recentes mudanças no marco regulatório do pré-sal passaram pelo trâmite legal, não foi algo imposto sem discussão no Congresso. Para investimentos de longo prazo, como os da indústria do petróleo, isso é extremamente relevante – afirma o historiador Francisco Carlos, coordenador do Laboratório Tempo Presente da UFRJ.
Para Macedo, a tendência é que estatais de países como China e Índia estejam entre as empresas que vão buscar regiões mais estáveis politicamente, como o Brasil.
– Empresas da China e da Índia buscam garantias de reservas de petróleo e, para isso, buscam mercados com estabilidade jurídica e política.
Produção no Oriente Médio tende a cair com protestos
O economista Edmar de Almeida, do grupo de energia do Instituto de Economia da UFRJ, lembra ainda que os conflitos no Oriente Médio e no Norte da África devem levar a um declínio na produção de petróleo. Em primeiro lugar, porque as empresas estrangeiras estão suspendendo suas operações em muitos desses países.
Em segundo lugar, porque em alguns desses países, como a Arábia Saudita e o Irã, são as petrolíferas estatais que lideram a atividade exploratória. Como os governos locais estão anunciando pacotes com benefícios sociais para conter os protestos, provavelmente haverá cortes de investimentos em outros setores.
– A arma que os regimes autoritários têm para conter as manifestações é aumentar gastos públicos. E isso significa retirar dinheiro de outros setores da economia – diz Almeida.