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9 de fevereiro de 2024Por que Rússia deve crescer mais do que todos os países desenvolvidos, apesar de guerra e sanções, segundo o FMI
18 de abril de 2024Dados do Tesouro americano divulgados nesta segunda-feira mostram que o
Brasil foi o país que registrou o segundo maior aumento em aplicações em
títulos do governo dos Estados Unidos no último ano, somente atrás da
China. O dado é divulgado em um momento em que cresce a tensão quanto ao
risco de calote por parte dos Estados Unidos, caso o Congresso não
chegue a um acordo para elevar o teto da dívida pública do país até o
prazo de 2 de agosto.
Em maio, último dado disponível, o Brasil
tinha US$ 211,4 bilhões (cerca de R$ 333 bilhões) aplicados em títulos
do governo americano, valor que representa crescimento de 30,89% em um
ano e mantém o Brasil como quinto maior credor externo dos Estados
Unidos – atrás de China, Japão, Grã-Bretanha e um grupo de países
exportadores de petróleo.
Entre os 10 principais credores, o
Brasil foi o que registrou o segundo maior crescimento entre maio de
2010 e maio de 2011. No mesmo período, a China aumentou em 33,6% sua
compra de papéis do governo americano, chegando a US$ 1,16 trilhão, mais de um terço de suas reservas internacionais. No caso do Brasil, o
valor aplicado nesses títulos representa quase dois terços das reservas
internacionais, de US$ 340 bilhões.
O aumento das aplicações
brasileiras em títulos do Tesouro americano vem acompanhando o
crescimento das reservas do país. Em dezembro de 2004, com as reservas
brasileiras em US$ 50 bilhões, o país tinha um total de US$ 15,2 bilhões
em títulos da dívida americana. Em dezembro de 2007, quando as reservas
já chegavam a US$ 178 bilhões, as aplicações em títulos estavam em US$
129,9 bilhões.
Investimento seguro
Maio
foi o segundo mês de aumento consecutivo no valor investido pelo Brasil
em títulos do Tesouro americano. De março a abril, o montante já havia
crescido de US$ 193,5 bilhões para US$ 206,9 bilhões. “Os EUA não vão
perder seu status de porto seguro por causa de uma ultrapassagem de
curto prazo do teto da dívida”, diz Gregory Daco, economista da
consultoria IHS Global Insight.
A mesma tendência de crescimento
foi registrada entre outros grandes credores, como a China, apesar de o
governo americano ter anunciado em 16 de maio que os Estados Unidos
haviam atingido o limite legal de endividamento público, de US$ 14,3
trilhões, e que, caso esse teto não seja elevado até 2 de agosto, irão
ultrapassar o limite e, pela primeira vez, poderá deixar de cumprir seus
compromissos financeiros.
Segundo analistas, essa tendência pode
indicar que, apesar das preocupações com um possível calote dos Estados
Unidos – expressadas não apenas pelo governo mas também pelo FMI (Fundo
Monetário Internacional) e por agências de classificação de risco, em
meio às dificuldades de um acordo entre democratas e republicanos no
Congresso para elevar o teto da dívida –, os papéis do Tesouro americano
ainda são considerados um investimento seguro. “Os Estados Unidos não
vão perder seu status de porto seguro por causa de uma ultrapassagem de
curto prazo do teto da dívida”, disse à BBC Brasil o economista Gregory
Daco, da consultoria IHS Global Insight.
Risco
Assim
como outros economistas, Daco aposta em um acordo antes de 2 de agosto,
evitando que os Estados Unidos deixem de cumprir seus compromissos
financeiros. No entanto, o impasse no Congresso já levou as principais
agências de classificação de risco a alertarem sobre a possibilidade de
rebaixamento da nota dada aos Estados Unidos (atualmente é “AAA”, a mais
alta existente), atestado de que um país tem grande capacidade de
cumprir seus compromissos financeiros.
A Standard & Poor’s e a
Moody’s já haviam colocado a nota dos Estados Unidos em revisão, com
risco de rebaixamento caso o Congresso não autorize o aumento do teto da
dívida. Nesta segunda-feira foi a vez da agência Fitch avisar que, “na
hipótese pouco provável de o teto não ser elevado antes de 2 de agosto”,
colocará a classificação do país em observação negativa.
Diante
dessa movimentação toda, a China já se manifestou na semana passada,
dizendo esperar que o governo americano adote “políticas responsáveis”
para garantir o interesse dos credores. Segundo o economista da IHS,
mesmo que o teto da dívida não seja elevado a tempo e a classificação
dos Estados Unidos realmente seja rebaixada, é difícil calcular o efeito
entre os credores, apesar do impacto “muito negativo” na economia
americana.
“Os investidores teriam de encontrar alternativas para
aplicar seu dinheiro”, diz Daco. “No caso do Brasil, quinto maior
credor, não acredito que iria simplesmente retirar suas aplicações nos
títulos do Tesouro de uma hora para outra.” “Uma solução seria
reorientar esses investimentos para ativos mais seguros. Eu poderia
citar investimento em ouro ou em títulos de outros países, como a
Alemanha”, diz o analista. No entanto, em um momento em que países
europeus enfrentam uma crise de dívida e de credibilidade, muitos deles
com seus ratings já rebaixados ou sob ameaça, torna-se mais difícil
encontrar alternativas.
Crescimento
O
analista da IHS diz acreditar que, na hipótese “improvável” de o teto da
dívida não ser elevado até 2 de agosto, isso seria feito imediatamente
depois, resolvendo o problema no curto prazo. E mesmo em meio às dúvidas
e ao impasse no Congresso, Daco diz apostar que os investimentos em
títulos do Tesouro americano vão continuar a registrar crescimento
quando forem computados os dados de junho. “Em julho, vamos ver o que
acontece. Mas minha tendência é dizer que não deve haver grande
mudança.”
Segundo o economista, o ritmo lento da recuperação da
economia americana após a crise mundial, aliado às recentes tensões em
países do Oriente Médio e do norte da África e à crise de dívida na
Grécia e em outras economias europeias, contribuíram para uma atmosfera
de incerteza no mercado financeiro. E em períodos assim, diz Daco,
títulos do Tesouro são considerados a alternativa mais segura. “Isso
tudo levou os investidores a buscarem segurança nos títulos do Tesouro
americano”, afirma o analista. “Neste momento, os investidores não
estão preocupados com o teto da dívida. Eles estão mais preocupados com o
crescimento (da economia americana)”, diz.