Nos últimos oito anos, a corrente comercial do Brasil com os demais países em desenvolvimento cresceu duas vezes mais do que em relação aos parceiros desenvolvidos. Levantamento feito pelo BRASIL ECONÔMICO, a partir de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), aponta que o comércio com os países emergentes subiu 390% de 2002 a 2010, passando de US$ 34,2 bilhões para US$ 169, 2 bilhões.
Dessa forma, o valor negociado comos emergentes se aproxima da corrente de comércio negociada hoje com os países desenvolvidos, de US$ 177,8 bilhões. No período, o crescimento do comércio com esses mercados foi de 175% — em 2002, era de US$ 64,6 bilhões. A classificação dos países é feita a partir dos critérios do FundoMonetário Internacional (FMI), baseados no Produto Interno Bruto (PIB) das nações, no grau de industrialização e nos índices de qualidade de vida. Por esses critérios, são contabilizados 27 países desenvolvidos.
Dinamismo
Para Luis Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), a tática brasileira de estreitar os laços com nações em desenvolvimento veio em “boa hora”, já que a crise financeira global atingiu mais fortemente os países ricos. De fato, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), os desenvolvidos puxaram a queda de 22% na corrente de bens e serviços mundial registrada em 2009. Em 2010, a retomada não foi total: o ano apresentou uma alta de 16,4%, atingindo US$ 18,3 trilhões.
“Somente este ano o mundo deve voltar aos patamares précrise de 2008, US$ 20 trilhões”, calcula. Para 2011, a expectativa é que a corrente comercial de bens e serviços cresça 8,8%, a US$ 19,7 trilhões.
De forma geral, Lima diz que “os emergentes tiveramumdesempenho econômico mais dinâmico que os desenvolvidos, puxados pela alta das commodities no mundo”. Segundo ele, os preços recordes atingidos pelasmatérias-primas nos últimos anos permitiram que os emergentes — grandes exportadores desse tipo de produto— aumentassem seu comércio exterior a um ritmo superior ao dos países ricos, atingidos mais fortemente pela crise financeira internacional.
Cautela
“A retração da demanda dos EUA durante a crise tornou imprescindível a busca por mercados em ascensão, mas este não é um cenário tão positivo no longo prazo”, analisa José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O sinal de alerta, segundo ele, se dá porque a predileção brasileira por países em desenvolvimento teria gerado uma brecha para que outros países, como a China, ocupassem nichos de mercado antes disputados pelo Brasil nos países ricos.
“O Brasil tem potencial para atender ambos os mercados (emergentes e desenvolvidos). A preferência pelos países em desenvolvimento pode prejudicar nossa balança quando as commodities voltarem a se desvalorizar, o que não deve demorar para acontecer”, afirma.
Castro calcula que, em 2002, os EUA representavam 25% das exportações brasileiras. Em 2010, a cota não passou de 9,5%. “No governo Lula, fizemos inúmeras visitas oficiais a países da África, Ásia e América do Sul, mas nenhuma missão comercial envolvendo o presidente nos EUA”, completa.
A tendência para o próximo governo, contudo, é de continuidade: “A presidente Dilma Rousseff vemsinalizando que deve seguir osmesmos passos de Lula na política externa”, acredita Lima. Na posse, Dilma já manifestou a intenção de priorizar o Mercosul na pauta comercial.