A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) avalia que o Brasil tem tomado medidas corretas para conter as pressões inflacionárias e a expansão da economia. Em teleconferência, a S&P destacou os esforços que estão sendo feitos pelos países da América Latina para evitar uma alta dos preços e disse que a inflação começa a desacelerar na maior parte deles.
No caso específico do Brasil, a diretora de ratings soberanos da agência, Lisa Schineller, lembra que o País está no meio de um ciclo de aperto monetário e tem se esforçado para evitar uma disparada da inflação. Além disso, a equipe de analistas da S&P destaca que as ações não se concentram apenas na política monetária, mas também contam com o esforço fiscal do governo.
Foi diante deste cenário que, em maio, a Standard & Poor’s revisou de “estável” para “positiva” a perspectiva para o rating de crédito soberano de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil. O País tem nota de grau de investimento BBB-.
Em relação ao crédito, a S&P projeta crescimento de 15% na carteira total de empréstimos no País. A agência diz que a maioria dos bancos latino-americanos estão bem capitalizados, em situação melhor do que os de outras regiões e continuarão aumentando seus portfólios.
O diretor da S&P, Santiago Carniado, frisou, no entanto, esperar que os países da região continuem aprimorando suas regulações para o sistema financeiro e destacou que há patamares diferentes nesse quesito. O Brasil e o México foram citados como exemplos de países que possuem uma regulação mais avançada. “De qualquer forma, a penetração do crédito na maioria dos países ainda tem espaço para aumentar e segue crescendo. Mas os países estão se esforçando para ter um crescimento controlado e evitar bolhas”, afirmou.
No caso do Brasil, Lisa lembrou que as autoridades estão tomando as medidas necessárias para evitar um crescimento excessivo do crédito, buscando um pouso suave e não uma desaceleração brusca.
Questionada sobre a possibilidade levantada pelo Federal Reserve (Fed) de os Estados Unidos terem um terceiro programa de afrouxamento quantitativo, a diretora de ratings soberanos da S&P disse que o fortalecimento da economia norte-americana é positivo para toda a América Latina, sobretudo para México e América Central, que não têm o mercado asiático para ajudar a manter a demanda, ao contrário do que ocorre na América do Sul. Ela frisou, porém, que um novo afrouxamento quantitativo será uma grande desafio para as autoridade monetárias da região, que terão de adotar políticas adequadas para minimizar os efeitos da entrada de capital externo e da tendência de valorização de suas moedas.
Arminio Fraga alerta contra medidas tomadas pelo governo federal para deter o real
Arminio Fraga, sócio-fundador do Gávea Investimentos e presidente do Conselho de Administração da BMF&Bovespa, fez um alerta sobre os efeitos colaterais das medidas para deter a valorização do dólar. Comentando notícia do jornal Valor Econômico, de que o Banco Central tem um arsenal de medidas de controle cambial nos mercados derivativos que ainda poderá ser acionado, como taxação de margens e limitação de posições brutas, Fraga disse que há risco de se afugentar as operações para os mercados de balcão e offshore.
“Nós fizemos um grande esforço ao longo dos anos aqui no Brasil para criar um sistema mais robusto, mais transparente do que esse que se vê por aí pelo mundo afora. Temos hoje o que outros países sonham em ter, que são situações em que a liquidez, no que diz respeito a taxa de câmbio e taxa de juros, está muito concentrada na bolsa, o que é transparente e seguro. Na medida em que você começa a introduzir muita fricção no sistema, essas operações não desaparecem, você tende a jogá-las para o mercado de balcão e para os mercados no exterior, offshore”, comentou Fraga, que é ex-presidente do Banco Central.
Ressalvando que estava falando com o “chapéu” de presidente do Conselho da BM&FBovespa, ele notou ainda que as empresas que têm American Depositary Receipts (ADRs) já negociam aproximadamente 60% das suas ações fora do Brasil.
“Tem uma curva de custo-benefício nisso, e eu não gosto de exagerar, porque você acaba não conseguindo – os mercados vão arbitrar, e simplesmente deixamos de ver (as operações). Com o tempo, o mercado migra para fora”, acrescentou, referindo-se aos derivativos.
Fraga também disse que países como Chile e China, com forte tradição de uso de controles de capital, estão neste momento num movimento inverso. O Chile eliminou seus controles, e a China está reduzindo-os.
“A China claramente está indo numa direção de abrir sua conta de capital. É um país que tem uma experiência enorme com controles, inclusive com um sistema político mais forte, que tem todas as condições de pôr em prática esse tipo de sistema de controle. E, mesmo assim, hoje eles dão sinais muito claros que isso não está resolvendo a vida deles”.
Fraga frisou que não nega a importância da questão da entrada de capital e da pressão no câmbio, que considera “altamente relevante”. Mas, para ele, a solução virá com um arranjo macroeconômico que produza uma taxa de juro real mais baixa, além de um ataque mais efetivo ao custo Brasil.
Ritmo de crescimento diminui em maio
A economia brasileira cresceu menos em maio na comparação com o mês anterior, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). O indicador que antecipa o comportamento do PIB registrou expansão de 0,17% na comparação com abril, menor crescimento mensal do ano. Em março e abril, a expansão havia ficado em 0,44% no mesmo tipo de comparação. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o indicador apresentou crescimento pelo segundo mês consecutivo, de 3,93%.