O governo brasileiro deveria unir-se aos Estados Unidos para pressionar a China a desvalorizar o yuan, em vez de embarcar no discurso de que há uma guerra cambial global em curso.
A ponderação é do ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, hoje sócio fundador e estrategista da Rio Bravo Investimentos, para quem há uma “certa cacofonia” no debate.
“Não acho que exista uma guerra: há um problema com a China, o resto é de menor importância”, disse o economista e professor nesta quinta-feira no chat do Trading Brazil, da Thomson Reuters.
Para o ex-ministro, o governo deveria “alinhar-se aos americanos em pressionar os chineses a apreciar sua moeda”.
“Mas nosso governo não se alinha com os americanos em nada…”, acrescentou.
Conhecido como um dos idealizadores do Plano Real, que ajudou a domar a inflação nos anos 1990, Franco acaba de lançar um novo livro, chamado Cartas a Um Jovem Economista (Campus-Elsevier), no qual dá conselhos sobre a profissão e relata a história de sua trajetória profissional como professor, funcionário público e investidor.
Para ele, o recente aumento o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investidores estrangeiros anunciado pelo governo, buscando deter a alta do real, não caiu “tão bem” no mercado financeiro e já foi absorvido.
Arbitragem. “Não visa mais arbitragem, e atrapalha horrores alguns fluxos longos e desejáveis como os que compram papéis longos e mesmo o private equity”, afirmou, ressaltando que um ajuste fiscal seria a solução mais adequada.
O economista reforçou a avaliação dos que veem a fraqueza do dólar como um movimento global. “Os Estados Unidos estão arrumando a casa”, disse, prevendo que a situação se normalizará assim que o chamado “quantitative easing” começar a ser revertido, “em um ano ou dois”.
“O problema maior é a China. Não há taxa de câmbio real contra o dólar que faça o Brasil competitivo vis a vis a China”, disse, destacando a assimetria de salários nos dois países, e custos associados a emprego que deveriam ser corrigido principalmente no lado chinês.
Mas ele também reconheceu que as consequências do “quantitative easing” do governo norte-americano, por meio de corte de juros ou impressão de moeda para comprar ativos no combate à crise, são desconhecidas a médio prazo.