O BNDES engordou ontem seu caixa com a entrada de R$ 13 bilhões de uma primeira tranche de R$ 39 bilhões contratada com o Tesouro Nacional. No total, R$ 100 bilhões serão repassados ao banco até 2010. Os R$ 26 bilhões restantes desta primeira parcela serão depositados no cofre do banco de acordo com as necessidades da instituição de fomento. O dinheiro do Tesouro será usado pelo BNDES exclusivamente para compor “funding”, apesar de rumores de que pelo menos R$ 20 bilhões iriam para investimentos da Petrobras.
O banco está refazendo as contas do desembolso de 2009. No momento, trabalha com valores entre R$ 110 bilhões a R$ 120 bilhões, contando com os recursos do Tesouro. O cálculo inicial apontava para R$ 120 bilhões. Nos dois primeiros meses do ano os desembolsos somaram R$ 9,9 bilhões, sendo R$ 4,4 bilhões em janeiro e R$ 5 bilhões em fevereiro. Se a média mensal de R$ 5 bilhões de desembolso for mantida, contudo, o orçamento do banco em 2009 seria de apenas 50% do que foi estimado no início de janeiro. Tudo vai depender, porém, da reação do mercado de crédito. O primeiro trimestre é sempre sazonalmente mais fraco que o resto do ano, argumentam fontes do banco.
Gabriel Visconti, chefe do Departamento de Orçamento da Área de Planejamento disse que pelo menos 80% do do orçamento estimado de três dígitos já está comprometido com projetos aprovados no ano passado e início deste. Ele garantiu que até agora não houve nenhum movimento de desistência de projetos de investimento encaminhados à instituição por parte das empresas. Mas admitiu que há adiamentos porque o empresariado está de olho no comportamento da economia, da taxa Selic e da demanda para garantir seu investimento. Para Visconti, “o importante é observar um horizonte maior de desembolso. Não apenas o primeiro trimestre.”
Este ano, o BNDES conta com R$ 65 bilhões de recursos próprios, sendo R$ 55 bilhões de retorno de empréstimos já garantidos e cerca de R$ 10 bilhões em fase de captação no mercado doméstico e no exterior.
Em recente entrevista ao Valor, a superintendente da área internacional do banco, Maria Isabel Aboim, previu que devem entrar este ano no caixa da instituição US$ 1,5 bilhão de captações de instituições multilaterais, como o Banco Interamericano de Investimento (BID), o Japan Bank for International Cooperation (JBIC), e a agência alemã KFW, entre outras.
Também está em estudos uma volta ao mercado de eurobônus em 2009. No ano passado, o banco emitiu com sucesso US$ 1 bilhão em eurobônus. Se o país retomar esse tipo de operação, poderá buscar captar US$ 750 milhões, um padrão básico para o eurobônus. “O mercado está favorável a operações de renda fixa, mas uma decisão do BNDES sobre essa captação vai depender do custo da operação, que cresce de 7,8% para 9,5% quando o dinheiro é internalizado no país por causa de uma alíquota de 17,65% sobre esse tipo de remessa imposta pela Receita Federal”, afirmou Maria Isabel.
Mesmo que essa operação não ocorra, apesar de ser o ideal, pois assim o BNDES garante sua presença no mercado internacional depois de sete anos ausente, os R$ 100 bilhões do Tesouro blindam a instituição do risco de faltar recursos caso a intenção de investir do empresariado reaqueça com força a partir deste trimestre, garantindo um crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB). O banco, disse um interlocutor, não leva em conta o compromisso de utilizar os R$ 100 bilhões em dois anos, como se fala. “Se precisar usar tudo este ano, vai usar”.