Bird alerta para uso político de riqueza

Banco Mundial diz que governo terá de definir estratégia clara de gestão

Para evitar o uso equivocado e o desperdício dos recursos gerados pela exploração do petróleo na camada do pré-sal, o governo brasileiro terá de definir uma estratégia clara de gestão dessas riquezas. De um lado, é preciso poupar recursos para corrigir distorções macroeconômicas, como a sobrevalorização do real ante o dólar, decorrente da grande entrada de capital externo que o processo atrairá ao país. Também é preciso garantir que boa parte das reservas seja investida em programas que beneficiem a população, como educação e inovação. A advertência foi feita ontem pelo economista-chefe do Banco Mundial (Bird) para a América Latina, Francisco Ferreira, durante apresentação do estudo “Recursos naturais na América Latina: indo além das altas e baixas”.

— A pressão política é sempre para gastar o que se tem.

Por isso, é preciso haver instrumentos institucionais muito claros para criar uma proteção e preservar essa poupança no exterior. Tanto para o bem da atual geração em momentos de crise, quanto para o bem de gerações futuras, já que estamos usando um capital do país que tem de ser investido em capital humano e social — diz o economista.

Sobre a dependência dos países latino-americanos da exportação de commodities agrícolas e minerais, o estudo do Bird aponta que ela deixou de ser uma maldição para se tornaruma bênção, sobretudo na recente crise financeira mundial.

As exportações desses produtos para países da Ásia, especialmente a China, foram essenciais para a recuperação das economias latino-americanas.

Economista diz que é preciso se proteger da volatilidade Sobre o pré-sal, Ferreira lembra que, entre a capitalização da Petrobras, envolvendo cerca de US$ 72 bilhões, até o início da exploração comercial das reservas haverá um fluxo enorme de recursos na economia brasileira. Por isso, desde já o governo brasileiro deve começar a desenhar medidas para proteger esse dinheiro.

— Poupar é importante também para se proteger da volatilidade dos preços do petróleo, e de maneira que os recursos não levem a uma piora dessa síndrome da doença holandesa, que é a valorização ainda maior do câmbio, que pode ter efeitos nocivos sobre a indústria — diz Ferreira.

Para que esses recursos não se transformem em uma maldição, o economista diz que é preciso desenhar muito bem a sua destinação. Saber qual parte deles vai ficar no Brasil e qual a fatia a ser aplicada no exterior, como fazem a Noruega (petróleo) e o Chile (cobre).