O presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, acenou ontem com uma regulamentação completa do sistema financeiro dos Estados Unidos, que deveria ser coordenada com mudanças internacionais “na maior extensão possível”. Ele defendeu que os governos sigam tomando medidas “fortes” e, quando necessário, conectadas, para restaurar o mercado financeiro internacional e o fluxo de crédito. “Precisamos de uma nova estratégia que regulamente o sistema financeiro americano como um todo”, disse Bernanke, ontem, no Conselho de Relações Internacionais, em Washington, em conversa acompanhada por telefone por jornalistas em todo o mundo. “Revisão e supervisão dos bancos, apesar de necessárias para reduzir o risco sistêmico, não são suficientes.”
Ele enumerou os quatro elementos de sua estratégia: resolver o problema das instituições consideradas “grandes demais para falir”, reforçar a “infraestrutura” do sistema financeiro, reduzir os efeitos pro-cíclicos da regulamentação do capital e das regras contábeis, e a criação de uma agência governamental de avaliação de risco sistêmico.
Bernanke responsabilizou o desbalanço no fluxo global de capital e comércio pela crise e assumiu a culpa dos Estados Unidos, embora também critique os países que financiavam o déficit americano, como a China. “O desequilíbrio global é responsabilidade conjunta dos EUA e seus parceiros comerciais (…), no entanto, a responsabilidade sobre a utilização dos fluxos de capital é principalmente dos EUA”, disse.
Ele chegou a comparar a turbulência atual com as crises que atingiram as economias emergentes – México, Rússia, Brasil, Argentina e diversos países asiáticos – na década de 90. Segundo o chairman do Fed, existem “paralelos” porque o setor financeiro e os regimes regulatórios nesses países também se mostram inadequados na época para investir eficientemente o fluxo de capitais do exterior.
Ao detalhar sua estratégia, o presidente do BC americano disse que é “imperativo” incrementar a supervisão de grandes instituições financeiras . “Nesta crise, a questão dos grandes demais para falir surgiu como um enorme problema.” Ele garantiu, porém, que o governo americano continua comprometido em evitar a falência desse tipo de instituição.
O segundo ponto diz respeito ao aprimoramento da “infraestrutura” do sistema. Bernanke alertou para a fragilidade do setor de fundos mútuos de money market. Ele sugeriu que os formuladores de políticas públicas estudem maneiras de impor restrições rígidas aos investimentos desses fundos ou desenvolvam um sistema de seguro para os fundos que procurem manter valor estável dos ativos.
Bernanke está convencido que alguns regulamentos sobre o fluxo de capitais e regras contábeis tornaram o sistema financeiro excessivamente pro-cíclico, ou seja, estimularam as instituições a facilitar o crédito em épocas de “boom” e a apertar os cintos nas épocas ruins. Ele sugeriu, por exemplo, uma revisão dos montantes que as instituições financeiras são obrigadas a reservar para potenciais perdas.
O chairmam do Fed insistiu na criação de uma agência do governo com poderes para monitorar e estimar riscos sistêmicos. Está em aberto que instituição teria o papel da “autoridade sistêmica de risco”, mas Bernanke ressaltou que o Fed foi criado inicialmente para lidar com pânico financeiro. Bernanke evitou dar uma receita para os outros países, mas admitiu que a crise requer soluções internacionais. Ele disse que é difícil fazer previsões para a reunião do G-20 no dia 2 de abril em Londres, mas ressaltou que os países devem trabalhar para estabilizar o sistema financeiro. E voltou a insistir que, se isso for alcançado, a crise termina em dezembro e 2010 pode ser um ano de crescimento.
Questionado sobre o que aprendeu em seus anos de estudo sobre a Grande Depressão e que poderia ser aplicado agora, Bernanke respondeu que a política monetária deve ser um apoio em momentos de crise, ao invés de contrair a economia. Ele lembrou que políticas ortodoxas nos anos 30 levaram a um deflação de 10% ao ano nos EUA.