Bem recebido pelo mercado, novo presidente da Apple tem muito a provar

Com a saída de Steve Jobs, a Apple enfrenta um grande desafio: convencer que continua capaz de lançar produtos de grande sucesso. Tim Cook, o escolhido por Steve Jobs como seu sucessor, já assumiu o comando da empresa em várias ocasiões em que Jobs passava por tratamento de saúde.

Na Bolsa de Valores de Nova York, o primeiro dia da Apple sem Steve Jobs foi muito parecido com os anteriores. As ações da empresa tiveram um desempenho melhor que a média do mercado, caindo 0,65%, cotadas a US$ 373,72, num dia em que o índice Dow Jones registrou baixa de 1,51%.

Em um e-mail enviado à equipe, Tim Cook, diretor de operações da empresa, afirmou que a Apple não vai mudar. “Aprecio e celebro os valores e princípios únicos da Apple”, escreveu o executivo. “Steve construiu uma empresa e uma cultura que é diferente de qualquer outra no mundo e vamos nos manter fiéis a ela, está em nosso DNA.”

A confiança que os investidores parecem mostrar em Tim Cook não vem de hoje. Durante o primeiro semestre de 2009, quando o executivo esteve à frente da empresa, as ações da companhia subiram 62%. Desde janeiro, quando Jobs anunciou seu afastamento temporário, os papéis avançaram cerca de 8%.

Na quarta-feira, Jobs anunciou sua saída definitiva da presidência da Apple, por motivos de saúde, e sugeriu o nome de Cook como sucessor. O fundador da Apple deve continuar na empresa, como presidente do conselho.

Transição. Jeff Gamet, editor do site Mac Observer, afirmou que a saída tem um significado mais sentimental que prático. “Tudo o que a Apple realmente fez foi tornar oficial o que eles já vinha fazendo operacionalmente por algum tempo, que é deixar Tim comandar o show e Steve fazer sua parte para assegurar que os produtos estejam de acordo com os padrões de qualidade da Apple.”

Mas o analista Trip Chowdhry, da Global Equities Research, afirmou que a atenção maníaca de Jobs por detalhes é o que diferencia a Apple. Na sua visão, o plano de lançamentos de produtos da Apple pode estar assegurado pelos próximos dois anos, mas ele previu que a empresa vai acabar enfrentando dificuldades para gerar ideias que mudam o mercado.

“A Apple é o Steve Jobs, o Steve Jobs é a Apple, e o Steve Jobs é inovação”, disse Chowdhry. “Você pode ensinar as pessoas como ser operacionalmente eficientes, pode contratar consultores para dizer como fazer isso, mas Deus cria a inovação. A Apple sem Steve Jobs não é nada.”

As dúvidas sobre a saúde de Jobs têm sido uma grande preocupação para os investidores, que veem no executivo um oráculo da tecnologia. Anteriormente, ele sobreviveu a um câncer no pâncreas e a um transplante de fígado. O executivo não divulga detalhes sobre a sua saúde.

Art Levinson, chairman da Genentech, divulgou um comunicado em nome do conselho da Apple, dizendo que “a visão extraordinária e liderança de Jobs salvaram a Apple e a guiaram para se tornar a empresa mais inovadora e de maior valor no setor de tecnologia”.

Ele afirmou que Jobs continuará a oferecer “sua visão, criatividade e inspiração únicas” e que o conselho tem “confiança completa” de que Cook é a pessoa certa para substituí-lo. “Os 13 anos de serviço de Tim à Apple têm sido marcados por um desempenho exemplar, e ele tem demonstrado um talento notável e um ótimo julgamento em tudo o que faz.”

No começo deste mês, a Apple chegou a ultrapassar a Exxon Mobil como maior empresa do mundo. Ontem, a empresa valia US$ 346,5bilhões, comparados a US$ 349 bilhões da Exxon.

Conquistas. Jobs conseguiu conquistar sucessos cada vez maiores com o passar dos anos. Depois do computador colorido iMac e do tocador de música digital iPod, o iPhone redefiniu a categoria dos smartphones e o iPad criou o mercado dos tablets.

A própria imagem de Jobs faz parte da atração. No palco de eventos com seu uniforme de jeans, tênis e camisa preta de gola alta, ele costuma envolver a audiência com novos equipamentos, novas cores e novas funcionalidades de software, construindo o momento do grand finale que ele tradicionalmente apresenta com a frase “e tem mais uma coisa”, para então fazer o anúncio principal.