Após alguns dias de suspense, o Banco Central iniciou ontem a rolagem dos US$ 7 bilhões em contratos de swap cambial que irão vender em 1º de abril. Vendeu ontem lote de 80 mil contratos, correspondendo a US$ 3,98 bilhões. Ao contrário de meses anteriores, quando iniciou a renovação dos papéis já na virada da quinzena, desta vez deixou para desencadear o processo na reta final do ano. A falta de informações sobre o interesse da autoridade monetária em rolar os contratos criou no mercado a percepção de que tal instrumento de contenção da alta do dólar no mercado futuro tinha perdido o sentido no momento atual de distensão da crise externa. Desse ponto de vista, uma operação que equivale a uma venda a futuro de dólar pode ser um despropósito técnico quando se lembra que o BC já não vende moeda à vista desde o começo de fevereiro. Mas a rolagem ganha uma justificativa inteiramente nova e plausível se vista do ângulo das operações fechadas no mercado futuro pelos fundos estrangeiros especulativos.
Se optasse por efetuar o resgate puro e simples dos US$ 7 bilhões em swap cambial que vencerão na quarta-feira, o BC estaria revertendo sua posição futura de “vendida” para “comprada” no mesmo montante. Tal reversão, raciocina o diretor-executivo da NGO Câmbio, Sidnei Nehme, facilitaria a zeragem das posições “compradas” carregadas pelos hedge funds. Tais posições vêm recuando desde do dia 2, quando atingiram US$ 14,28 bilhões. A última oficialmente conhecida, referente ao dia 25, era de US$ 8,92 bilhões. A saída não pode ser muito acelerada pois poderia anular o ganho até então proporcionado. Por isso, cairia do céu um investidor como o BC disposto subitamente a “comprar” US$ 7 bilhões, quase a totalidade das posições dos fundos estrangeiros. “Sem condições de impor novos movimentos de elevação do dólar, ante a notória tendência de queda da cotação, tiveram frustradas suas expectativas de que o BC pudesse não rolar a posição de swaps e assim, tornar-se comprador no mercado de dólar futuro e possibilitar a zeragem quase absoluta de suas posições, sem ter que amargar mais perdas das margens de lucro contidas nas posições detidas, na trajetória que desenvolvem de desmonte”, diz Nehme.
O dólar fechou ontem cotado a R$ 2,24, em queda de 0,40%. Faltando três pregões para o encerramento de março, acumula no mês baixa de 5,49%. Se os hedge funds comprados não conseguirem sair da posição nesse período, devem utilizar todos os expedientes que forem necessários para puxar a cotação para cima e, com isso, reduzir as perdas. Não será tarefa fácil pois nos mercados externos, de onde brota a principal fonte de influência do comportamento do câmbio, o clima, sustentado por indicadores americanos favoráveis, é francamente otimista. Até exageradamente. Depois dos dados surgidos na semana acima das previsões referentes às encomendas de bens duráveis e às vendas de imóveis, ontem foi a vez da revisão da contração do PIB dos EUA no quatro trimestre. Como não vieram os 6,6% previstos pelos analistas, os 6,3% divulgados tiveram o mesmo sabor de um inesperado crescimento. O fato é que os economistas já começam a sugerir que os EUA sairão da crise antes do que se esperava. Prova disso é o novo preço recorde do petróleo, para 2009, de US$ 54,34, atingido ontem em consequência de uma alta de 2,98%.
Mais centrado nos indicadores domésticos, o mercado futuro de juros da BM&F não pôde se beneficiar da onda de otimismo que alegra Nova York. As projeções de CDI sofreram nova rodada de baixa. O swap de 360 dias cedeu de 9,88% para 9,79%, enquanto o CDI com vencimento na virada do ano recuou de 9,73% para 9,70%. Os analistas não interpretaram de forma esperançosa a informação de que a taxa de desemprego subiu, em fevereiro, menos do que esperavam. Segundo o IBGE, a taxa avançou de 8,2% em janeiro para 8,5% em fevereiro, quando as expectativas eram de alta para 9%. Por que o dado não foi comemorado? Porque a População Economicamente Ativa (PEA) – a matéria-prima da pesquisa – foi encolhida em 160 mil trabalhadores. Trata-se da fatia que, por considerar tal tarefa inútil, desistiu de procurar emprego e, por esta razão, foi afastada da amostra. Outros dados domésticos também não foram animadores. De acordo com a Fiesp, a utilização da capacidade instalada caiu de 78,6% em janeiro para 77,6% no mês passado, quando, um ano antes, a taxa estava em 83,5%. E o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da FGV recuou de 94,9 pontos em fevereiro para 94,2 pontos em março, no menor nível na série iniciada em setembro de 2005