Enquanto os juros cobrados do consumidor na compra a prazo de
veículos recuam desde maio, a inadimplência nessa linha de crédito não
para de crescer. Pelo sexto mês consecutivo, a parcela de créditos com
atraso superior a 90 dias aumentou em setembro e atingiu 4,4% do saldo
financiado ou R$ 7,3 milhões, segundo cálculos da Associação Nacional
das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef).
De acordo com o relatório que será divulgado hoje pela associação,
elaborado a partir de dados do Banco Central e das empresas filiadas, a
fatia do calote no total dos financiamentos aprovados quase cresceu dois
pontos porcentuais este ano. Em dezembro de 2010, a inadimplência acima
de 90 dias correspondia a 2,5% do saldo financiado e em setembro estava
em 4,4%.
Bancos. O aumento da inadimplência apareceu nos resultados
trimestrais dos principais bancos. Na divulgação dos resultados do
terceiro trimestre do Banco do Brasil (BB), o destaque negativo foi para
as operações do Banco Votorantim (BV), do qual o BB é dono de 50%. A
inadimplência do BV subiu de 3,2% para 4,3% dos créditos a receber, do
segundo para o terceiro trimestre. A força do BV está no financiamento
de veículos.
O Itaú Unibanco foi outra instituição que registrou aumento do calote
do consumidor. No segundo trimestre esse indicador estava em 5,8% e em
setembro tinha subido para 6,3%. “Não há vilão no assunto inadimplência,
isto é, todas as categorias de crédito (pessoal, cartões e veículos)
contribuíram igualmente para o crescimento do índice no trimestre”, diz
Rogério Calderon, diretor de controladoria.
O Bradesco também exibiu o aumento da inadimplência da pessoa física
no resultado trimestral. Em junho, o crédito em atraso acima de 90 dias
correspondia a 5,7% da carteira de empréstimos e, em setembro, essa
fatia tinha subido para 6%.
“Houve alta generalizada na inadimplência de veículos no terceiro
trimestre, em algumas instituições mais e em outras, menos”, diz Jair
Lantaller, presidente do Instituto Geoc, que reúne empresas de cobrança.
No últimos 60 dias, o presidente do Instituto Geoc conta que cresceu
18% o volume de trabalho para as empresas de cobrança, puxado
especialmente pelos financiamento de carros que não foram pagos. O
perfil da inadimplência de veículos recai sobre carros populares, com
prestação entre R$ 700 e R$ 800.
Essa informação é confirmada por outra pesquisa feita pela agência de
varejo automotivo MSantos com empresas de cobrança. Os consumidores,
com renda familiar entre R$ 2 mil e R$ 3,5 mil, que financiaram veículos
em até 60 meses a partir de 2009, puxam hoje a fila dos inadimplentes,
diz a pesquisa.
De acordo com a Anef, o aumento da inadimplência contrariou as
expectativas do início do ano e é explicado pelos efeitos da inflação
que prejudicaram a quitação dos débitos. Lantaller, do Geoc, acrescentou
outro fator que contribuiu para o aumento do calote: o cartão de
crédito. Uma enquete feita com inadimplentes pelo instituto que ele
preside mostrou que o inadimplente dá prioridade ao pagamento do cartão
em detrimento de outros débitos, porque assim reabilita o crédito.
Para Calderon, do Itaú Unibanco, a inadimplência vai melhorar nos
próximos trimestres com a elevação da massa salarial e a redução da
inflação e dos juros. Para outros executivos do setor financeiro, no
entanto, o calote vai se estabilizar só no início do segundo trimestre e
os acréscimos de renda não serão suficientes para estancar a
inadimplência no curto prazo.