Depois de desautorizar publicamente o representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista, e dizer que ele errou ao não participar de votação em que a instituição concedeu mais uma ajuda financeira à Grécia, o ministro Guido Mantega (Fazenda) mudou de tom. Após encontro com Paulo Nogueira, ontem, o ministro divulgou nota afirmando que o representante “tem sido diligente” e conta com seu “respaldo político” para continuar no cargo.
“Paulo Nogueira tem tido uma atuação relevante na diretoria executiva do FMI, desde a sua nomeação, em 2007. Ele tem sido diligente e atuado em sintonia com o governo brasileiro e conta, como sempre contou, com o respaldo político do ministro da Fazenda e governador do Brasil no Fundo para exercer, e continuar exercendo, suas responsabilidades como diretor executivo do FMI”, diz o texto.
Na semana passada, Paulo Nogueira Batista se absteve de uma votação para a liberar uma parcela de € 1,72 bilhão de euros para ajudar o governo grego. Logo depois, o diretor divulgou comunicado justificando a abstenção e alertando sobre os riscos de que os recursos do FMI acabassem sendo liberados para países que não teriam condições de pagar os empréstimos.
A postura não agradou Mantega, que ligou para a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, para dizer que o Brasil é favorável à ajuda à Grécia. O ministro também convocou Paulo Batista para vir a Brasília dar explicações.
Na nota divulgada ontem, Mantega afirma que “houve um problema de comunicação sobre a decisão tomada pelo diretor executivo de se abster na votação” e reafirma que o governo brasileiro é favorável ao programa de recuperação da Grécia. Ele ressalva, porém, que há melhorias a se fazer.
“Ambos (Mantega e Nogueira Batista) avaliaram que os programas de resgate à Grécia e outros países da periferia da área do euro precisam ser revistos e aperfeiçoados de modo a dar melhores condições de recuperação a esses países”, afirma a nota do ministério. O texto diz ainda que é comum que os diretores executivos do FMI tomem várias decisões por semana, e nem sempre é possível a consulta ao governador do FMI, que, no caso do Brasil, é o ministro da Fazenda. Por isso, “o entendimento é de que, em questões de maior importância, a consulta é necessária e imprescindível”.
A abstenção de Paulo Nogueira não prejudicou a liberação de recursos para a Grécia. Este tipo de operação é aprovado pela Diretoria Executiva do FMI por maioria simples dos votos ponderados, e um diretor que se abstém sai da base de cálculo para cômputo da maioria requerida.