A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, questionou a credibilidade de Palocci, após a divulgação da carta na qual ele pediu a desfiliação, alegando que ele diz o contrário do que dizia à Justiça um ano atrás com o objetivo de fechar delação. \”Em qual Palocci se deve acreditar: no que diz ter mentido antes ou no que mudou de versão agora para se salvar?\”, diz a nota.
Para Gleisi, o ex-ministro age com \”fraqueza de caráter\”. Destinatária da carta de Palocci, a senadora disse que a mensagem \”não se destina ao PT, mas aos procuradores da Lava Jato\”. \”É a mensagem de um condenado que desistiu de se defender e quer fechar negócio com o MPF, oferecendo mentiras em troca de benefícios penais e financeiros.\”
A presidente cassada Dilma Rousseff reafirmou que Palocci \”falta com a verdade\” quando aponta sua participação em \”supostas reuniões para tratar de facilidades\” à Odebrecht. O ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, também citado pelo ex-ministro, não foi localizado.
Outros dirigentes, parlamentares e ex-integrantes dos governos petistas evitaram comentar as novas acusações de Palocci. Sob a condição de anonimato, no entanto, muitos admitem que as punições internas ao ex-ministro foram um \”tiro no pé\”, uma vez que deram a Palocci mais um palco para disparar contra Lula e o partido. Quase todos demonstraram indignação com o que consideram uma \”traição\” do ex-ministro.
Para parte dos líderes petistas, a carta de Palocci é mais um elemento a dificultar a participação de Lula na eleição de 2018. Alguns descreveram o ataque do ex-ministro como o mais duro já sofrido pelo partido justamente por ter vindo de um de seus principais quadros.
Visto inicialmente com desconfiança por parte do PT – que o considerava de \”direita\” por privatizar serviços públicos quando foi prefeito de Ribeirão Preto -, Palocci herdou o posto de coordenador do programa de Lula na campanha de 2002 após o assassinato de Celso Daniel. Rapidamente se tornou um dos principais nomes do governo petista, no qual desempenhou a função de fiador nos setores bancário e empresarial.
Vários petistas ouvidos pela reportagem disseram que Palocci verbaliza avaliações internas de setores do partido como o suposto uso do nome de Marisa Letícia pela defesa de Lula, e dá verossimilhança a acusações já conhecidas como a da reunião com Dilma, Palocci e o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli na biblioteca do Palácio da Alvorada. Mas dizem que Palocci \”manipulou a verdade\” em sua defesa.
O ex-ministro Antonio Palocci, homem forte dos governos do PT e fundador do partido, enviou nesta terça-feira (26) à senadora Gleisi Hoffmann, presidente da legenda, uma carta na qual oferece sua desfiliação e faz um duro relato pessoal, em tom emotivo, sobre o \”acúmulo de eventos de corrupção\” nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Em pouco mais de três páginas, Palocci provoca o que foi descrito por um alto dirigente petista como uma \”hecatombe\” ao dizer que viu Lula se dissociar do \”menino retirante\” e \”sucumbir ao pior da política\”.
Ele conta detalhes sobre suposto pedido de propinas à Odebrecht na biblioteca do Palácio da Alvorada, compara o PT a uma \”seita\” submetida à \”autoproclamação do \’homem mais honesto do País\’\” e sugere que o ex-presidente tenta transferir a responsabilidade por ilegalidades à ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro. O ex-ministro diz ainda que Dilma destruiu programas sociais e a economia e afirma que o PT precisa fazer um acordo de leniência se quiser se reconstruir.
Ao final, Palocci coloca nas mãos de Gleisi a decisão sobre sua desfiliação do partido. Na semana passada, o PT de Ribeirão Preto (SP), pressionado pela Direção Nacional, abriu o processo de expulsão de Palocci. Na Sexta-feira passada, dia 22, o órgão máximo do partido decidiu suspendê-lo provisoriamente por 60 dias.
Na carta, Palocci acusa o PT de só punir quem ataca o partido e seu líder máximo e de ignorar denúncias de corrupção. Nesta terça-feira, 26, o ex-ministro completou exatamente um ano de cadeia, em Curitiba, onde está preso preventivamente na Operação Lava Jato. No texto ele confirma que negocia um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).
Segundo a assessoria do ex-presidente, Palocci voltou a dizer \”mentiras\” contra Lula com o objetivo de fechar uma colaboração. Gleisi respondeu com uma nota dura, na qual também acusa o ex-ministro de mentir para se livrar da condenação de 12 anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. \”Política e moralmente, Palocci já está fora do PT\”, diz a nota da senadora.