Com aparições pontuais desde a dura campanha eleitoral do ano passado, a ex-senadora Marina Silva deve voltar aos holofotes da política no próximo mês. “Marineiros” de plantão esperam que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conceda em agosto o registro de criação da Rede Sustentabilidade, quase dois anos depois de o primeiro pedido junto ao TSE ter sido negado. Confiante de que se tornará o 33º partido brasileiro, o movimento político liderado pela ex-ministra do Meio Ambiente planeja para o período entre setembro e novembro as convenções que definirão os diretórios da futura legenda e inicia conversas para as eleições de 2016. O ambientalista Apolo Heringer Lisboa foi sondado para ser candidato a prefeito de Belo Horizonte.
Atualmente, o processo está na Corregedoria Geral Eleitoral do TSE. A expectativa é de que, quando o Judiciário retornar do recesso, na semana que vem, ministros julguem a questão. Em 2013, o registro foi negado pela falta de 50 mil assinaturas para atingir o mínimo de 492 mil apoiadores exigido pela legislação eleitoral. Desta vez, dois pontos pesam a favor da Rede. Além de o movimento ter apresentado mais 56 mil assinaturas, há a possibilidade de o tribunal cobrar cerca de cinco mil assinaturas a menos do que em 2013.
A comprovação do apoio de eleitores considera o percentual de 0,5% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados. Como o processo de criação da Rede começou em 2013, a referência eram as eleições de 2010, quando 0,5% representavam 492 mil assinaturas. Agora, o parâmetro já seriam as eleições de 2014 e os 0,5% significariam 486,6 mil apoiadores. De acordo com o TSE, por se tratar de algo inédito, o critério será discutido em plenário antes da votação do registro.
“A partir de setembro e novembro, vamos fazer as novas convenções estaduais e eleger os diretórios. A convenção nacional será em novembro. A partir deste ano e no início do ano que vem, vamos trabalhar os diretórios municipais”, afirma o coordenador de organização da Rede, Pedro Ivo Batista, que ressalta estar focado no processo de registro.
Militantes do movimento em Minas, entretanto, têm concentrado esforços na inserção da Rede nos municípios. Eles estão em contato com líderes políticos na tentativa de antecipar conversas para formação de chapas para 2016. “A partir de agosto (com o registro), abre-se a janela partidária para quem desejar migrar. Quem tem mandato pode migrar em 30 dias e, para quem não tem, o prazo vai até 30 de outubro”, explica a porta-voz da rede em Minas, Carla Queiroz.
Sem falar em números, Carla ressalta que a Rede está conversando com “boa parcela” dos 853 municípios e, em setembro, começa a organização dos diretórios municipais, chamados de “coletivos” pelo movimento. “Na medida do possível, vamos trabalhando com candidatura própria, que é o DNA da Rede. Estamos conhecendo pessoas muito bacanas”, afirma.
Ela também reforça que a atuação vai além das eleições. “Não somos um partido tradicional. Queremos discutir a sustentabilidade com movimentos sociais e lideranças”, diz. De fato, integrantes da Rede fazem questão de distanciar o movimento dos atuais partidos brasileiros. “Nosso programa é pela sustentabilidade. Um partido que questiona a atual estrutura política e propõe novas estruturas mais horizontais e flexíveis”, afirma Pedro Ivo.
O discurso de se fazer uma nova política, entretanto, ainda não conseguiu cooptar filiados suficientes para tirar a Rede da condição de um futuro nanico. Pela estimativa do próprio movimento, a Rede conta atualmente com 7 mil filiados informais. O número é bem menor que os filiados do Pros e do Solidariedade (SD), que conseguiram obter o registro de partido em 2013. Criados há dois anos, eles têm 26,7 mil e 37,4 mil filiados, respectivamente.
A defesa da “nova política” também já foi motivo de desgaste no movimento. Depois de receber 22 milhões de votos na disputa pela Presidência da República nas eleições de 2014, Marina Silva, então abrigada no PSB, provocou um racha na Rede ao anunciar seu apoio ao senador Aécio Neves (PSDB) no segundo turno. Os dissidentes acreditavam que, para ser coerente com a “nova política”, ela deveria ter mantido a independência.
Mas parece que a Rede tem tentado não apenas angariar mais apoiadores, como também recuperar antigos integrantes, como o ambientalista Apolo Heringer Lisboa. Fundador do Projeto Manuelzão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o mineiro chegou a ser lançado pré-candidato a governador de Minas na aliança entre Rede e PSB nas últimas eleições. No lugar dele, o ex-prefeito de Juiz de Fora, Tarcísio Delgado – pai do então presidente do PSB em Minas, Júlio Delgado – acabou na disputa.
Apolo conta que foi procurado por integrantes da Rede, que sondaram se ele não se interessaria em ser candidato a prefeito de Belo Horizonte. Ressentido com o episódio do último pleito, ele afirma que só aceitaria o convite se Marina lhe pedisse desculpas publicamente. “Nós queríamos uma candidatura alternativa em Minas e, na prática, meu nome era o único que poderia crescer e levar as eleições para o segundo turno”, afirma. “Marina teria que reconhecer que errou ao apoiar Júlio e Tarcísio Delgado. Ela teria que reconhecer que Minas ficou prejudicada. Se fizer isso publicamente, posso repensar”, completa.
Marina Silva foi procurada pela reportagem, mas sua assessoria de imprensa informou que, por questão de agenda, ela não poderia conceder entrevista na semana passada. Mais distante da cena política desde as eleições, Marina tem se dedicado a aulas e palestras. Na quinta-feira à noite, em evento em São Paulo que discutiu o uso de ferramentas digitais para ampliar a representação política, ela afirmou aos participantes que “a Rede, assim como partidos sendo criados hoje mundo afora, não pode ter a pretensão de já ser a resposta. Nesse momento, as tentativas são de atualizar a política”.