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22 de julho de 2014As últimas notícias do setor de telefonia provam que os consumidores que sofrem com a qualidade do sinal não estão sozinhos. Acionistas das operadoras têm passado por meses de provação, com intensa volatilidade dos papéis, crises de governança, rebaixamento por agências de classificação de risco e incertezas sobre o futuro das empresas — elementos fartos no enredo mais recente, o imbróglio entre Oi e Portugal Telecom. Na opinião de analistas, o ideal é que os investidores se mantenham distantes do setor, uma vez que a perspectiva daqui para a frente também é negativa.
A ação que exige maior cautela é a da Oi. A companhia sempre foi criticada por seu elevado endividamento — no primeiro trimestre, a dívida líquida totalizou R$ 30,3 bilhões —, e a notícia de que a sócia Portugal Telecom não recebeu € 897 milhões de um vencimento de títulos da RioForte atingiu em cheio os papéis. Em julho, a desvalorização acumulada foi de 20%. As agências de classificação de risco Fitch e Standard & Poor’s rebaixaram a nota de crédito da companhia para grau especulativo, enquanto a Moody’s colocou o rating sob revisão. Dos 16 analistas que acompanham a operadora, sete recomendam a venda dos papéis, e apenas três a compra, segundo dados compilados pela Bloomberg.
— Apesar de a recente venda de torres de telefonia e o aumento de capital na Bolsa (operação de R$ 14 bilhões concluída em abril) terem dado um alívio à Oi, ela permanece muito endividada. Isso é um problema grave porque vários investimentos serão necessários nos próximos anos, como o leilão do 4G — explica Lucas Marins, analista da corretora Ativa. — Além disso, os resultados operacionais da Oi são piores que os das competidoras, que se saem melhor na transição dos clientes de pré-pago para pós-pago e nos serviços de dados.
DESTINO DA TIM É INCERTO
A alavancagem da Oi é muito maior que a das concorrentes. Em 2013, a dívida líquida era equivalente a 3,43 vezes a geração de caixa (medida pelo Ebitda, lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), enquanto a da Vivo foi de 0,21. Um dos argumentos por trás da fusão com a PT era reduzir esta proporção, mas a meta ficou distante depois do caso RioForte.
— A nova empresa nascerá com a imagem manchada, mais alavancada do que se previa, com menor capacidade de investimento e obrigada a absorver uma aplicação de curto prazo, que, de repente, se transformou em um negócio de seis anos — critica um gestor, que preferiu não ser identificado.
Mas a Oi não é a única a enfrentar problemas. Desde o ano passado, a Telefônica — que controla a Vivo — busca uma solução para a TIM, na qual ganhou fatia após investir na Telecom Italia. Isto porque o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) considera sua participação nas duas operadoras incompatível com as normas da concorrência. A incerteza sobre seu futuro mantém voláteis as ações da TIM, que caíram quase 12% desde 22 de janeiro, quando atingiram seu maior patamar no ano.
— O que vai determinar o preço dos papéis é a questão societária, se os controladores vão se desfazer da participação no Brasil — observa Roberto Indech, analista da plataforma de investimentos Rico, da corretora Octo. — Em momentos de incerteza como este, o melhor a fazer é ficar fora do setor.
MERCADO SATURADO
Das três ações listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) — a Claro é subsidiária da América Móvil, negociada no México —, a Vivo é a mais estável, segundo analistas. Dos 19 que acompanham a empresa, 11 recomendam compra, e apenas um a venda.
— A Vivo é uma empresa defensiva, com volatilidade menor que a do índice Ibovespa, e uma grande distribuidora de dividendos. A operadora também é líder isolada em clientes pós-pago. É a única capaz de garantir uma boa rentabilidade, na minha opinião — acrescenta Marins, da Ativa.
De acordo com dados compilados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a fatia da Vivo no mercado pós-pago era de 41% em maio, contra 23,5% da Claro, segunda colocada.
Mesmo assim, a Vivo terá dificuldades para expandir sua base de clientes, uma vez que a saturação do mercado de mobilidade dificultará a vida de todas as operadoras, observam Felipe Silveira e Daniel Liberato, analistas da corretora Coinvalores.
— Ao longo dos últimos anos, houve ampliação muito grande no número de usuários de telefonia. Mas, hoje, a base de fixo está em declínio, e a de celular, estabilizada. O desafio hoje é estimular o uso dos serviços de dados — diz Liberato.
