– A indicação de Graça Foster era esperada pelo mercado, já que
sempre que se falava na troca de comando da empresa o nome da diretora
de gás e energia era citado. É uma pessoa com grande experiência
técnica, tem conhecimento da empresa e não havia nome melhor para
substituir Gabrielli. Será uma gestão muito técnica – avalia Igor
Maresti, analista da BES Securities, corretora de valores do BES
Investimento do Brasil.
Para o advogado Claudio Araújo Pinho,
especialista em Petróleo e Gás, a indicação de Graça Foster não gerou
expectativa para o mercado. Ao contrário, o fato da nova presidente da
empresa estar em sintonia com os projetos que Gabrielli vinha tocando é
uma sinalização positiva.
– Além disso, a gestão de Graça Foster
será muito mais técnica do que política. Não vejo, por exemplo, o risco
de Graça Foster sair do cargo a qualquer momento para se candidatar a
uma cargo político – diz o advogado.
É claro que, como em qualquer troca de comando de empresa, mudará o estilo do novo presidente.
–
A gestão é individual de cada presidente, portanto a agenda que estava
sendo tocada no dia-a-dia deve sofrer ajustes. Mas isso não é negativo.
Fala-se que ela tem um jeito ‘duro’, mas hoje em qualquer empresa a
cobrança por resultados existe. Nesse aspecto, isso é até positivo. Um
estilo mais ‘duro’ pode tornar a Petrobras ainda mais competitiva no
mercado – analisa o advogado.
Para a Corretora Coinvalores, de São
paulo, Graça Foster deve dar continuidade aos projetos de investimento
da empresa e não se espera uma ‘guinada fora da curva’ com a nova
presidente. A corretora mantém a recomendação de compra para os papéis
da empresa este ano e está revisando o preço alvo. No ano passado, as
ações preferencias da empresa caíram 18,3%. Este ano, a valorização já
chega quase a 17%.
– Nossa avaliação é que as ações da empresa terão um desempenho superior ao ano passado – avalia um analista da Coinvalores.
A troca de comando na Petrobras foi oficializada com uma nota oficial:
“A
Companhia informa que o Conselho de Administração é o órgão responsável
pela eleição de seu presidente. O Presidente do Conselho de
Administração da Petrobras, Sr. Guido Mantega, já manifestou que vai
encaminhar como proposta a ser apreciada na próxima reunião do mesmo, a
se realizar dia 9 de fevereiro próximo, a indicação da atual Diretora de
Gás e Energia, Maria das Graças Silva Foster, para presidir a
Petrobras. Uma vez o assunto em questão seja aprovado pelo Conselho, a
Companhia dará ampla divulgação do fato”, diz a nota divulgada pela
Petrobras.
O perfil técnico de Graça Foster, destacado pelo
mercado, vai bem ao gosto da presidente Dilma Rousseff, de quem é amiga.
Engenheira química com pós-graduação em engenharia nuclear pela UFRJ,
ela é considerada competente, leal a seus superiores, exigente e às
vezes pouco afável nas negociações — o que faz com que muitos a vejam
como uma pessoa dura. Funcionária de carreira, comandou seu programa de
biodiesel da estatal.
Gabrielli, que está há quase sete anos à
frente da companhia petrolífera, deve assumir um cargo no governo Jaques
Wagner e, depois, disputar as eleições em 2014 para o governo da Bahia
ou para o Senado. A saída do executivo era alvo de especulações desde o
ano passado, por suas aspirações políticas.
– A avaliação da
gestão Gabrielli é muito positiva. A empresa foi testada e respondeu
positivamente num regime de competição, em que o monopólio da exploração
do petróleo foi quebrado no país. Nos últimos cinco anos, a empresa
consolidou algumas posições importantes. A Petrobras America, por
exemplo, explora petróleo até no Golfo do México. Também há posições
importantes na África, em países como Moçambique e em Angola – avalia o
advogado Claudio Araújo.
– Gabrielli liderou grandes
transformações da empresa.A descoberta do pré-sal, por exemplo,
aconteceu sob sua gestão – diz o analista Igor Maresti.
De estagiária a presidente da Petrobras
A
história de Graça reflete diversos pioneirismos. Ela entrou na estatal
como estagiária em 1978 e chegou a ser uma das primeiras mulheres a
trabalhar “embarcada” nas plataformas de petróleo em alto- mar. Ela
ocupou diversos postos de prestígio na companhia e no setor energético.
Esteve à frente, por exemplo, da BR Distribuidora e da Petroquisa.
Além
disso, já esteve na administração federal: foi titular da Secretaria de
Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e
Energia quando Dilma era a titular da pasta. Ali, coordenou o Prominp,
programa de qualificação da indústria do petróleo, e o programa de
biodiesel do governo.
Mas foi no retorno à Petrobras — ela voltou
para substituir Ildo Sauer na diretoria de Gás — onde se fez mais
conhecida e mostrou alguns traços de sua personalidade. Além de estar
totalmente envolvida com o desenvolvimento do pré-sal, foi muito
combativa na chamada “crise do gás”, quando Brasil e Bolívia divergiram
sobre a quantidade e o preço de combustível do país andino que viria
para o Brasil.
Gabrielli assumiu comando da Petrobras em 2005
Já
Gabrielli entrou na Petrobras em 2003, como diretor Financeiro e de
Relações com Investidores, por indicação do então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Na época, sua nomeação causou apreensão no mercado, que
considerava seu perfil acadêmico demais para a função. No entanto,
Gabrielli conseguiu quebrar a desconfiança dos investidores e assumiu a
presidência da Petrobras em julho de 2005, mesmo ano em que ganhou do
jornal “New York Times”, o título de “Melhor Executivo de Finanças da
América Latina” e o troféu “Equilibrista”, do Instituto Brasileiro de
Executivos de Finanças (Ibef). Gabrielli é formado em economia pela
Universidade Federal da Bahia e fez doutorado na Universidade de Boston.