FMI estima perda astronômica de bancos de EUA, Europa e Japão entre 2007 e 2010
As perdas do setor financeiro com a crise econômica internacional devem somar a surpreendente cifra de US$ 4,1 trilhões apenas nos principais países desenvolvidos, estimou relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado ontem. Somente os bancos e instituições financeiras americanas poderão registrar prejuízos de até US$ 2,7 trilhões — uma quantia que é quase o dobro da estimada pelo Fundo há seis meses. Na Europa, o sistema financeiro dos 16 países que adotam o euro e mais o Reino Unido devem sofrer perdas de US$ 1,2 trilhão e, no Japão, a conta chegará a US$ 149 bilhões.
O relatório soma prejuízos já declarados e perdas potenciais das instituições financeiras de economias desenvolvidas no período entre 2007 e 2010. Dois terços das perdas serão em grandes bancos e o restante, nas demais instituições, como seguradoras e fundos de previdência. O relatório “Estabilidade financeira global” prepara o terreno para os debates dos ministros das finanças do G-20, que se encontram em Washington entre sexta-feira e domingo.
— O relatório mostra o quanto a crise atual está relacionada ao fato de que inovações no mercado permitiram a transferência de riscos, fazendo com que grandes instituições financeiras sejam hoje tão interconectadas que, se uma delas for à falência, vai arrastar outras. É preciso que a ajuda dos governos não venha a agravar esse problema — avalia Marco Espinosa-Vega, do departamento de Mercado de Capitais do FMI.
Emergentes precisam de US$ 1,8 trilhão
Segundo o FMI, os bancos americanos declararam apenas metade dos ativos podres em seu poder, estimados em US$ 1,1 trilhão. No caso dos bancos europeus, apenas 25% dos prejuízos, calculados em US$ 1,2 trilhão, já estão declarados.
Segundo o relatório, os mercados globais devem recuperar a tranquilidade apenas em 2011, e, até lá, o crédito continuará apertado e cada vez mais caro para empresários e consumidores.
O relatório estima ainda que há a necessidade de injeção de mais US$ 1,2 trilhão no mercado global, a fim de restaurar a credibilidade de longo prazo. Segundo o FMI, os governos dos países mais atingidos pela crise precisam elaborar novos pacotes de ajuda. Pelas contas da entidade, os bancos já levantaram US$ 900 bilhões em capital novo desde o começo da crise, em fins de setembro, sendo que metade disso veio de recursos públicos. Mas os bancos ainda precisam de novos US$ 2,8 trilhões para cobrir perdas até 2010, alerta o Fundo.
O FMI também fez uma estimativa para a necessidade de financiamento dos países emergentes em 2009.
Diante da escassez de crédito privado, o rombo nas contas externas dessas economias chegará a US$ 1,8 trilhão. “Mercados emergentes que dependiam desses fluxos (de capitais privados) já estão se debilitando, o que realça a importância de um apoio oficial compensatório”, diz o relatório.
Anteontem, a Colômbia tornou-se o segundo país latino-americano a pedir socorro ao FMI, requisitando US$ 10,4 bilhões em empréstimos, seguindo os passos do México, que obteve US$ 47 bilhões de ajuda, concedidos na sexta-feira. O presidente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, aplaudiu a iniciativa do governo colombiano, dizendo que o país tem “fundamentos econômicos sólidos para pedir um empréstimo como precaução para o agravamento da crise”.
Entre os países europeus, Hungria, Sérvia, Romênia, Islândia, Ucrânia, Bielorrússia e Letônia já recorreram ao FMI, e a Polônia deve ter aprovado em breve seu pedido de US$ 20,5 bilhões.