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18 de abril de 2024Os funcionários da montadora Fiat Chrysler Automobiles (FCA) na Itália e nos Estados Unidos foram surpreendidos, na manhã de ontem, com um e-mail enviado antes do início do expediente. Nele, o CEO global da companhia, Mike Manley, afirma que foi apresentada uma proposta formal de fusão com a rival francesa Renault.
O argumento expresso no texto, e confirmado pela empresa horas depois, é que o setor automobilístico passa pela “mais profunda e dramática transformação em quase de século.” O executivo se refere à rápida incorporação de novas tecnologias no campo da mobilidade, com a introdução de veículos elétricos e autônomos, o que exige união de forças entre as principais montadoras mundiais.
Se o pedido de casamento da Fiat for aceito pela Renault, as duas empresas formarão um colosso industrial, o terceiro maior do mercado automotivo,
avaliado em mais de US$ 35 bilhões e vendas de US$ 39 bilhões. Com a união, elas ultrapassam da americana General Motors e a coreana Hyundai, ficando atrás apenas da Volkswagen e Toyota. “Mesmo que as marcas sigam independentes aos olhos do consumidor, o ganho de competitividade e de escala é gigantesco”, afirma o economista José Eduardo Spangnuolo, especialista em indústria automotiva pela Fesp-SP.
O movimento de consolidação do mercado de automóveis, com a união de forças de grandes players globais, tem acontecido com mais intensidade nos últimos anos. Uma negociação semelhante está em curso entre a General Motors e PSA Group (dona das marcas Peugeot, Citroën, DS e Opel). Ambas as empresas, inclusive, chegaram a negociar a FCA.
Segundo o comunicado de ontem, a proposta é formar uma holding com sede na Holanda, com 50% do capital para cada, e ações cotadas em Nova York (Estados Unidos) e em Milão (Itália). Em resposta, a Renault afirmou que está estudando a proposta com interesse e que considera interessante a oferta. Os investidores também gostaram. Os papéis das duas empresas disparam mais de 10%.
A resposta definitiva da Renault, no entanto, sairá nos próximos dias, depois que os membros do conselho de administração da montadora discutirem os prós e contras do negócio. Não está descartada uma contraproposta, que poderia incluir uma fatia maior para o governo francês, que é acionista da Renault, com fatia de 15%.
Os argumentos pela fusão, segundo especialistas, são sedutores. A união resultaria em vendas anuais de 8,7 milhões de veículos e um aumento da presença das marcas em regiões e segmentos importantes, gerando 5 bilhões de euros (aproximadamente R$ 22 bilhões) em economia anual.
“O amplo e complementar portfólio das duas marcas forneceria uma cobertura completa do mercado, do luxo ao mainstream”, disse a FCA. Uma eventual fusão, de acordo com a Fiat, não resultará em fechamento de fábricas. “Com base na experiência com a Chrysler nos últimos 10 anos, estou muito animado com o que poderíamos conseguir com a Renault nos próximos anos”, afirmou o presidente e herdeiro da FCA, John Elkann. “Pelo contrário, todos os países envolvidos e a Itália, que é nossa casa, serão muito beneficiados”, afirmou.
Se as fábricas não serão afetadas, o organograma da companhia, sim. A possível união formará um grupo que deve ser presidido pelo diretor dos investimentos da família Agnelli, John Elkann. Já o presidente do conselho de administração da Renault, Jean-Dominique Senard, é cotado para assumir o cargo de presidente-executivo da companhia.
Na avaliação do vice-premiê italiano, Matteo Salvini, a fusão pode ser boa notícia se ajudar a FCA a crescer em todo o mundo, mas, principalmente, preservar empregos. A FCA tem um negócio altamente lucrativo na América do Norte com as picapes RAM e a marca Jeep, mas perdeu dinheiro na Europa no último trimestre, onde a maior parte de suas fábricas está operando abaixo de 50% da capacidade e enfrenta dificuldades com normas mais rígidas de emissões de poluentes.
A Renault, na contramão, foi uma das primeiras empresas a investir em veículos elétricos e tem forte presença em mercados emergentes, como a FCA no Brasil, mas não tem operações nos Estados Unidos. Um acordo, porém, faria pouco para resolver a limitada presença de ambos os grupos na China, maior mercado automotivo do mundo.
A FCA afirmou que a decisão pela fusão foi “fortalecida pela necessidade de se tomar decisões corajosas para capturar uma escala de oportunidades criadas pela transformação da indústria de veículos”. O custo enorme destas mudanças, incluindo ameaças de novos entrantes como a Tesla em carros elétricos e Uber e Google em veículos autônomos, tem pressionado montadoras de veículos a trabalharem mais juntas, incluindo Volkswagen e Ford.