O vereador do Rio, Leonel Brizola Neto, acusou ontem o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, de vender o partido para o PMDB do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes. Em discurso no plenário da Câmara municipal, publicado nesta quarta-feira no Diário Oficial do Poder Legislativo, o parlamentar disse ainda que “sabe quanto pagaram e não foi pouco”, mas não revelou valores. Em entrevista ao GLOBO, porém, disse que o acordo teria custado R$ 2,5 milhões, apesar de não ter provas. Leonel Brizola atribui a Lupi também às supostas ameaças de mortes que estaria recebendo e atacou a gestão de Cabral.
— O presidente do partido, Carlos Lupi, que fica vendendo a legenda por aí, inclusive ao PMDB, e vendeu ao (chefe da Casa Civil da prefeitura) Pedro Paulo e ao Eduardo Paes, os minutos de televisão. Eu sei quanto pagaram e não foi pouco. Compraram o tempo de televisão, essa é a verdade — afirmou o vereador, no discurso.
Leonel Brizola continuou:
— Em nome da democracia, muito suor e muito sangue foram derramados. E se aparelhou, ali (no PDT), um grupelho que se utiliza e se autoperpetua no poder para fazer negociata e faz negociata, vendendo tempo de televisão, como venderam para o prefeito Eduardo Paes. E o prefeito Eduardo Paes aceitou negociar com uma pessoa que, sequer, é o presidente municipal do partido. O PDT tinha presidente municipal. Ele (Paes) ignorou o diálogo porque acha que pode negociar por cima. Isso não deve acontecer só com o PDT. Isso deve ter acontecido com todos os outros partidos que fizeram essa coligação monstruosa, que atenta contra a democracia.
Neto do ex-governador Leonel Brizola, o vereador também falou sobre as ameaças:
— Venho a este microfone deixar bem claro: se algo acontecer comigo ou com a minha família, das ameaças que tenho sofrido, das ameaças que tenho sofrido nas ruas, dos xingamentos por parte dessa camarilha de bandidos que se instalou no PDT. Tudo isso tem endereço: se chama Carlos Lupi. Ele é o grande responsável. Tenho obrigação de vir aqui a este microfone para fazer essa denúncia. A denúncia de que estou sendo ameaçado na minha vida, xingado e violentado fisicamente. Não tenho outro microfone, porque não me deixam entrar no partido que meu avô criou com muito sacrifício.
Ele disparou contra os governos de Cabral e Paes:
— Um governo que privatiza, um governo que vira as costas para a educação, que prende estudante, que dá tiro de borracha em trabalhador, bate em professor! Fora a questão ética e moral, que é gravíssima neste Estado.
Procurado pelo GLOBO nesta quarta-feira, Leonel Brizola confirmou o discurso.
— Eu já tinha defendido a saída do PDT dos governos do Cabral e do Paes porque não cumpriram os compromissos com a educação, a saúde. Foi um desabafo. Na reunião do partido no último dia 8, o Lupi me xingou e tentou me agredir fisicamente depois que eu pedi um partido mais democrático. Ele é presidente de tudo: dos diretórios nacional, estadual e municipal há 10 anos. A pedido do Lupi, um vereador de Duque de Caxias, ligado à milícia, me ameaçou de morte – disse o vereador, embora não tenha registrado o caso na polícia.
Perguntado sobre o valor da negociação do PDT com o PMDB, o vereador respondeu:
— Não vi o pagamento, mas disseram que foi R$ 2,5 milhões.
Lupi, por sua vez, disse apenas que vai processar Leonel Brizola:
— Essas coisas eu respondo na Justiça. Não polemizo com o jovem vereador. O que estiver no discurso dele vou mandar para a Justiça.
No governo Cabral, o PDT comanda a secretaria de Proteção e Defesa do Consumidor, com Cidinha Campos, e a secretaria de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca, com Felipe Peixoto. Na administração de Paes, a legenda ocupa a Secretaria municipal de Trabalho, com Augusto Ribeiro. Na programa de TV e rádio, o partido tem direito a cerca de três minutos.
Hoje, o PDT vive uma crise. A família Brizola, que inclui a deputada estadual no Rio Grande do Sul, Juliana, e o ex-ministro do Trabalho, Brizola Neto, perdeu o controle do partido após a morte do avô, em 2004. Os três irmãos são minoria na legenda e tentam retomar o comando.
Cabral, Paes e Pedro Paulo, por meio de suas assessorias de imprensa, informaram que não vão falar sobre o assunto.