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19 de fevereiro de 2013O ano de 2013 será crucial para o posicionamento dos países no xadrez do comércio mundial. Os emergentes devem tomar a liderança nas vendas, enquanto a crise assola as nações desenvolvidas. Nessa arrancada, o Brasil pode estar fadado a continuar um grande vendedor de commodities (produtos básicos com cotação global, como soja, minério de ferro e petróleo), já que a apatia da indústria faz o país perder cada vez mais espaço em destinos prioritários. Desde o início das turbulências, em 2008, até 2011, a falta de agressividade do setor custou US$ 14 bilhões ao país, segundo levantamento feito pelo GLOBO. O montante equivale à fatia do mercado de exportações perdida nesse período nos principais destinos.
O dado não leva em conta 2012, porque as estatísticas dos outros países ainda não foram fechadas. Por aqui, o total das vendas externas caiu, bem como as exportações do setor industrial. E o cenário tende a piorar neste momento decisivo já que, apesar de ser a sétima maior economia do mundo, o Brasil está em 112º lugar no ranking de investimentos feito pela Agência de Inteligência Americana (CIA). É o pior colocado dos Brics — sigla para o grupo de emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Já entre os sul-americanos, só está à frente do Paraguai. O Brasil investe 18,9% do Produto Interno Bruto.
Com falta de investimentos e, consequentemente, queda de competitividade, o Brasil tem diminuído sua participação no comércio mundial. Nos anos de 1950, chegou a absorver 2,2% dos gastos globais. Hoje, tem cerca de 1% na projeção dos especialistas para 2012.
A participação da indústria despenca na pauta de exportações. Antes da crise, os produtos do setor representavam 71% do que o país vendia para fora. Agora está em 61%. O peso da indústria de transformação nos dez principais mercados passou de 54%, em 2008, para 52,5% no ano passado.
Perdas para China e Peru
Somente para os Estados Unidos, o grande parceiro comercial, o Brasil abriu mão de vendas que chegariam a US$ 3,6 bilhões. Esse seria o faturamento, se o país tivesse mantido a sua participação nesse mercado. Já na Argentina, que compra basicamente produto industrializado, a perda equivale a US$ 1,3 bilhão.
Com a indústria paralisada, as exportações do setor caíram 3,6% só no ano passado. A China vem ocupando o espaço brasileiro. Na América Latina, as vendas brasileiras têm perdido terreno para produtos peruanos e colombianos. O Peru investe 25,4% do PIB e a Colômbia, 24,1% do PIB. Além de investir aquém do necessário para impulsionar as exportações, o Brasil vê o empresariado se voltar para o mercado interno. O país já teve 30 mil empresas exportadoras, e esse número caiu para 18 mil. Resultado: o embaraçoso 24º lugar na lista de economias que mais exportam.
Enquanto isso, no mundo inteiro, o comércio internacional de bens mostrou mais vigor ao em 2012: cresceu 2,1% nos três primeiros trimestres, segundo dados compilados pelo Banco Central. É um ritmo menor que a média de 6% dos últimos anos, mas é o início de uma retomada após a crise.
— Esse era o momento de recuperar o mercado perdido, mas falta agressividade — concluiu o diretor do departamento de comércio exterior da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca. — Estamos pagando o preço de anos de negligência com a nossa competitividade.
Acordo entre EUA e UE ameaça
Em alguns mercados, o Brasil aumentou sua participação. É o caso de Canadá, China, Cingapura e Holanda. Juntos, esses avanços somam ganhos de US$ 2,8 bilhões. No balanço geral das exportações, incluindo as commodities, como o país diversificou os destinos, os analistas preveem estabilidade na participação verde-amarela no comércio mundial, em torno de 1%.
Para suprir lacunas importantes da competitividade, como impostos excessivos, falta de infraestrutura para o escoamento da produção e burocracia que encarece o produto, a indústria espera um dólar bem mais valorizado em relação ao patamar atual. Uma cotação de R$ 2,30 agradaria 80% do setor. Já R$ 2,40 seria a alegria geral.
— O dólar poderia ser o que fosse, se a gente fosse competitivo nas outras áreas e não tivesse todo esse custo Brasil — afirmou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o risco de ficar para trás num momento como esse tem um agravante: o acordo que é negociado entre Estados Unidos e União Europeia. Esses são os dois maiores mercados dos produtos industrializados do Brasil. Se os gigantes econômicos chegarem a um entendimento nos próximos dois anos, ditarão o futuro de pelo menos um terço do comércio mundial.
— É uma ameaça (à indústria brasileira), e se esse acordo vingar vai ficar muito mais difícil exportar — previu a gerente-executiva de negociações internacionais da CNI, Soraya Rosar: — O Mercosul já não é mais solução para o problema da exportação brasileira.
