Waging the currency war
17 de janeiro de 2011Dilma pede que Banco Mundial acelere empréstimo ao Rio de Janeiro
19 de janeiro de 2011O Brasil quer negociar compensações com a China por causa do câmbio artificialmente desvalorizado do país asiático e já estuda medidas de retaliação, caso as autoridades chinesas não concordem em negociar um comércio bilateral mais justo, que evite a desindustrialização de parte da economia nacional. Os contatos devem ser iniciados nas próximas semanas, antes do encontro entre a presidente Dilma Rousseff e seu colega Hu Jintao, em Pequim, prevista para abril.
As alternativas em discussão são variadas: acordos setoriais de exportação e investimentos e abertura do mercado chinês para carnes, frutas e produtos industrializados do Brasil são alguns exemplos. Se a resposta for não, o leque de contra-ataque poderá ser enfático e inclui o não reconhecimento formal da China como economia de mercado, a redução dos embarques de alimentos e minérios ao mercado chinês e o aumento das tarifas de importação de manufaturados.
O governo brasileiro também exigirá ações para reduzir o ingresso de produtos piratas e contrabandeados no Brasil. É elevado o volume de itens falsificados, como remédios, por exemplo. Além disso, preocupa o alto grau de subfaturamento por parte das importadoras, para pagarem menos impostos no desembaraço das mercadorias.
Segundo uma fonte envolvida no assunto, não se pode diminuir as importações chinesas e garantir maior competitividade às indústrias locais apenas aplicando tarifas antidumping, como tem sido feito ultimamente. Também não é possível assistir passivamente aos ganhos sucessivos da China em comércio tanto no Brasil como na disputa com exportadores brasileiros em terceiros mercados.
– Vamos falar grosso com a China. Todo o governo está preocupado com o que está acontecendo e podemos fechar a torneira também, se não houver compensações – disse a fonte.
Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a nova estratégia virá em boa hora. Ele defende que é preciso reverter a equação de que os brasileiros dependem dos chineses no comércio. Ele lembrou que a Índia ameaça não vender minério de ferro para a China e que a Austrália, outra importante fornecedora não só de minério, mas também de alimentos, enfrenta sérios problemas causados pelas chuvas.
– O Brasil não depende da China. É a China quem depende do Brasil – disse Castro.
Em investimentos, a ideia é que as empresas chinesas entrem no Brasil por meio de associações e joint ventures, e não sozinhas. Esse procedimento já é adotado pelo governo chinês, que só aprova operações desse tipo na China e desde que sejam do interesse do país. De acordo com um técnico, a China só investe em projetos que lhe convêm: a compra de minas e fazendas de produção de soja se destacam. O governo brasileiro dirá que os chineses devem entrar mais em infraestrutura – transportes, energia e outros.
– Temos que agir como eles agem conosco. Eles têm que nos agradar – disse o técnico.
“Economia está ameaçada pela onda chinesa”, diz ministro
Com reservas estimadas em US$2,3 trilhões, a China é o principal parceiro comercial do Brasil. Em 2010, o intercâmbio bilateral foi favorável ao lado brasileiro em US$5,192 bilhões.
O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, admite que vê com grande preocupação a invasão de produtos chineses no Brasil e, desde que assumiu, está debruçado sobre uma pauta de medidas que reforcem a reação do país e os mecanismos de defesa comercial.
– A economia está ameaçada pela onda chinesa – afirmou Pimentel ao GLOBO.
Ele quer o Ministério do Desenvolvimento trabalhando em sintonia com o Itamaraty na área de comércio exterior. Pimentel fez um gesto emblemático nesse esforço. Reuniu-se com o chanceler Antonio Patriota e pediu a indicação de um diplomata da sua confiança para ocupar o cargo de assessor internacional do Desenvolvimento. O nome será anunciado nos próximos dias.
