Julian Assange declara que seu processo de extradição para a Suécia, que será decidido em fevereiro, não interfere na divulgação de documentos secretos da diplomacia dos EUA
O fundador do site Wikileaks, Julian Assange, declarou que vai ampliar o ritmo da publicação de documentos secretos, prometendo mais revelações entre os 250 mil documentos diplomáticos dos Estados Unidos e outros vazamentos. Assange, de 39 anos, deu uma breve declaração aos repórteres do lado de fora da Corte do Magistrado Belmarsh, em Londres (Reino Unido), onde participou de uma audiência sobre sua extradição à Suécia por casos de abuso sexual e estupro. Assange sempre negou as acusações de supostos crimes sexuais contra duas mulheres e declara que o caso está politicamente motivado pela divulgação dos documentos.
Diferentemente das primeiras aparições, Assange foi extremamente sucinto e não aceitou perguntas dos jornalistas. “Nós estamos ampliando a publicação de material ligado ao Cablegate (como é conhecido o vazamento dos documentos diplomáticos) e outros materiais. Estes acontecerão logo por meio de nossos jornais parceiros ao redor do mundo – grandes e pequenos jornais e algumas organizações de direitos humanos”, disse Assange, sem dar mais detalhes.
Apesar da notícia do incremento na divulgação dos documentos, Assange se disse pessimista sobre o futuro do Wikileaks, que, segundo ele, tem prejuízo de 500 mil euros semanais (R$ 1,42 milhão) desde o começo do Cablegate. “Não poderemos sobreviver do jeito que vamos (…) O dinheiro dos doadores tem dificuldades para chegar até nós porque todas as nossas contas estão bloqueadas”, disse, em entrevista à emissora de rádio francesa Europe 1. Mas declarou também que buscará reagir.
O Wikileaks atraiu a atenção internacional quando começou a publicar centenas de telegramas diplomáticos secretos norte-americanas no ano passado, revelações que encabularam os Estados Unidos e seus aliados. Mas o fluxo das informações vazadas, publicadas pelo The New York Times, The Guardian, Der Spiegel, Le Monde e pelo El Pais sofreu redução recentemente em meio a uma série de ataques on-line, dificuldades financeiras e o processo na Suécia contra Assange. Dos mais de 250 mil documentos, até ontem o site havia disponibilizado apenas 2.017.
O processo de extradição de Assange será examinado em uma audiência em um tribunal de Londres em 7 e 8 de fevereiro, informou um juiz. A data para a audiência do processo de extradição foi decidida após uma audiência de 10 minutos ontem. Cidadão australiano, Assange esteve no local apenas para apenas para confirmar seu nome e endereço. O principal representante do Wikileaks está sob prisão domiciliar numa propriedade no leste da Inglaterra desde que foi libertado, sob fiança, após ter sido detido no mês passado sob acusação se estupro e ataque sexual contra duas mulheres, crimes que teriam sido cometidos durante uma viagem à Suécia.
Mais cedo, o Wikileaks divulgou um comunicado criticando as ameaças de morte contra Assange feitas nos Estados Unidos. O documento comparou a experiência de Assange com a da deputada democrata Gabrielle Giffords, que foi alvejada na cabeça durante um ataque no Arizona, que deixou seis mortos no sábado. Os advogados de defesa anunciaram, em nota, a intenção de esgotar todos os recursos para evitar sua extradição para a Suécia. Eles alegam que, em caso de extradição, existe um risco real de que Assange termine “detido em Guantánamo ou exposto à pena de morte” nos Estados Unidos. O texto questiona mais uma vez a credibilidade das supostas vítimas de Assange.