O governo federal vai capitalizar com ações ON da Petrobras a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O primeiro banco receberá o equivalente a R$ 2,5 bilhões, ao todo 77.641.422 ações, e o segundo, R$ 4,5 bilhões, ou 139.754.560 ações da petrolífera. A medida foi publicada na edição de sexta-feira do Diário Oficial da União.
Ao DCI, o vice-presidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival, revelou que o banco “ficará com as ações. Agora a possibilidade de expandir crédito é grande, pois o índice de Basileia saltou de 17,1% para 18,6%. Necessariamente o crédito será disposto para habitação, infraestrutura, pessoa jurídica e pessoa física.”
Segundo Percival, não faz sentido vender ações, uma vez que o mercado comercializa cerca de R$ 100 milhões por dia em ações da Petrobras. “Recebemos R$ 2,5 bilhões. Aumento de capital é uma coisa, liquidez é outra: esta não aumenta e nem diminui. O que fizemos foi capitalização.”
O executivo ressalta que o aporte de ações incrementa a capacidade de crédito da CEF em aproximadamente R$ 50 bilhões. “Crescemos muito rápido na demanda por crédito. O aporte vai possibilitar duplicarmos a carteira de crédito, de R$ 150 bilhões para R$ 300 bilhões, em dois ou três anos. Antes tínhamos capacidade de crescer a R$ 100 bilhões.”
O vice-presidente de Finanças ressaltou que as projeções para expansão de crédito eram de 30% no começo do ano. “Fizemos a revisão e acreditamos que fechamos 2010 com expansão de até 47%. A demanda está forte.”
Percival descartou que a Caixa Federal recorra ao mercado, com emissão de dívida subordinada, por exemplo.
Na quinta-feira, 26, a presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho, sinalizou a possibilidade de fazer capitalização para manter o crescimento do crédito do banco governamental. “Se precisar, vai ser feita uma capitalização. Nas próximas semanas, está prevista a emissão de R$ 500 milhões por meio de securitização dos créditos”, disse a executiva.
O banco ressalta que a capitalização reflete a continuidade do processo de fortalecimento da estrutura de capital da empresa, iniciado por meio de emissões dos Instrumentos Híbridos de Capital e Dívida em 2007 e 2009, nos valores de R$ 5,2 bilhões e R$ 6 bilhões, respectivamente. A Caixa Econômica Federal obteve lucro líquido de R$ 890 milhões no segundo trimestre e acumulou ganhos de R$ 1,7 bilhão no semestre. O resultado do segundo trimestre foi 14,5% superior ao do primeiro trimestre, e na comparação semestral, e 44,1% superior ao mesmo período do ano passado.
“O resultado obtido é mais um passo na estratégia, estabelecida ainda em 2003, de consolidar a Caixa como uma instituição relevante no acesso a crédito”, declarou a presidente da Caixa em nota.
As contratações de crédito imobiliário no semestre foram da ordem de R$ 33,5 bilhões, incluindo repasses. Este valor é quase o dobro do valor registrado no mesmo período do ano passado. Nos últimos 12 meses, a carteira imobiliária cresceu 58%.
Opiniões
O professor de Finanças da Brazilian Business School (BBS) Ricardo Torres diz nunca ter visto movimento de capitalização parecido. “Foi uma medida acertada, pois aumenta o valor do banco”
O professor destaca que a entrada das ações já configura aumento de ativos do banco, antes mesmo da transferência.
Na sua opinião, se o banco vendesse as ações para fazer caixa, correr-se-ia o risco de puxar os preços da petrolífera para baixo. “Falamos de R$ 7 bilhões, praticamente uma capitalização de uma empresa. Em um único lote, não teria como vender.”
Ações
Com as notícias da sexta-feira, os papéis da Petrobras ON fecharam em alta de 3,02%, cotados a R$ 29,98 por ação.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também fechou em alta de 2,69%. A alta aconteceu após seis quedas seguidas. O Ibovespa fechou a semana com 65,585 mil pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,259 bilhões. As ações PN da Gol lideravam os ganhos do dia no final do pregão, com alta de 6,32%, para R$ 22,72. As ações da Fibria fecharam com alta de 5,03%, aos R$ 27,76. A maior baixa do pregão ficou por conta dos papéis da MMX, que, cotados a R$ 12,62, caíram 1,79%.
O principal fator, de acordo com analistas, para puxar o resultado da Bolsa, foi o discurso de Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano.
O presidente deu sinais de que a instituição está pronta para agir, se for necessário; em outras palavras, o Fed vai considerar fazer uma outra grande compra de títulos se a economia se deteriorar significativamente.
Para ele é razoável esperar algum ímpeto no crescimento em 2011 e nos anos seguintes para os Estados Unidos. O crescimento da economia americana no trimestre passado foi de 1,6%.