O governo dos Estados Unidos poderia ter de estatizar alguns bancos de forma temporária para consertar o sistema financeiro e restaurar o fluxo de crédito, segundo afirmou Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) em entrevista ao \”Financial Times\”.
Greenspan, considerado por décadas o sumo sacerdote do capitalismo \”laisser-faire\”, sem grande interferência do Estado, afirmou que a estatização poderia ser a opção \”menos ruim\” para as autoridades do país. \”Pode ser necessário estatizar temporariamente alguns bancos de forma a facilitar uma reestruturação rápida e ordenada\”, disse. \”Entendo que, uma vez a cada cem anos, isto é o que deve ser feito.\” Os comentários de Greenspan fecharam um dia agitado, no qual autoridades por todo o espectro político deram a impressão de que passaram a aceitar algum tipo de estatização dos bancos.
\”Deveríamos centrar-nos no que funciona\”, disse Lindsey Graham, senador republicano pela Carolina do Sul, ao \”Financial Times\”. \”Não podemos continuar gastando mal […] se o que funciona é a estatização, então, vamos fazê-la.\” Na terça-feira, antes de discursar no Economic Club, de Nova York, Greenspan disse ao \”Financial Times\” que \”em alguns casos, a solução menos ruim é que o governo assuma o controle temporário\” de bancos com problemas, seja por meio do Federal Deposit Insurance Corporation, a agência do governo que garante os depósitos financeiros dos correntistas, ou de algum outro mecanismo.
Greenspan afirmou que o controle temporário pelo Estado \”permitiria ao governo transferir os ativos tóxicos para um banco ruim sem o problema de saber como determinar seu preço.\” Alertou que os detentores de dívidas seniores, que têm privilégio de receber os pagamentos dos bônus em relação aos demais, precisam ser protegidos mesmo no caso de estatização. \”É preciso ser muito cuidadoso em impor qualquer perda aos credores seniores de qualquer banco cujo controle for passado ao governo, porque isso poderia impactar as dívidas seniores de todos os outros bancos\”, afirmou. \”Esta é uma crise de crédito e é essencial preservar uma âncora para o financiamento do sistema. Essa âncora é a dívida sênior.\”
Greenspan fez as declarações enquanto o presidente do país, Barack Obama, assinava a lei de estímulo econômico de US$ 787 bilhões, em Denver, no Colorado. Obama anunciou também um programa de US$ 75 bilhões para o socorro de casos de execuções hipotecárias, em Phoenix, Arizona. Paralelamente, a Casa Branca trabalhava na noite passada na última fase do resgate de duas das três grandes montadoras de carros dos EUA.
Em discurso após assinar a lei de estímulo, que ele chamou de \”o pacote de recuperação mais abrangente de nossa história\”, Obama apresentou um cronograma vertiginoso de decisões federais para as próximas semanas, incluindo medidas para reparar o sistema bancário do país, o envio na próxima semana do orçamento de 2009 e uma reunião bipartidária na Casa Branca para abordar a disciplina fiscal de longo prazo.