O economista-chefe do HSBC, Andre Lóes, avalia que, ao elevar o juro básico para 11,25% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) tomou a decisão correta do ponto de vista do controle da inflação. Mas acredita que ainda não dissipa as dúvidas sobre a autonomia do Banco Central (BC) no governo Dilma Rousseff. “Vai levar alguns meses para todo mundo ter um entendimento completo do tom da política monetária no novo governo.” A seguir, os principais trechos de entrevista ao Estado.
O que a decisão do Copom indica?
Era o que esperávamos, considerando as últimas comunicações do Banco Central, como o Relatório de Inflação de dezembro. O Copom também avisou que vai mesclar medidas administrativas – mais de nicho, digamos assim – com altas da taxa de juros – instrumento mais geral. A inflação está correndo em um nível bem alto, não só pelo índice cheio, mas também pelos núcleos (que excluem itens como alimentos e energia). Por isso, é importante que ele dê sinais ao mercado, na ata a ser divulgada semana que vem, que se trata só do início do processo e que pode acelerar o ritmo, caso necessário. Nós esperamos mais uma alta de 0,75 ponto e outra de 0,50 ponto. Ao final do ciclo, teríamos 12,50%. E vemos chance de ter de subir ainda mais.
As dúvidas que surgiram logo após a eleição da presidente Dilma sobre autonomia do Banco Central foram dissipadas com a decisão?
Ainda não. Essas medidas são tomadas em um ciclo de aperto. Teremos de ver qual o tamanho do ciclo, como será feito, etc. Se for feito de maneira que traga a inflação para nível mais perto da meta, as dúvidas se dissipam de vez. É natural, em todo início de governo, que se tenham dúvidas. É preciso um tempo e um entendimento da comunicação e da forma de agir do novo Banco Central. A despeito de uma diretoria parecida com a anterior, é um presidente novo, uma presidente da República nova e no Brasil o Banco Central tem autonomia, mas não tem independência. Então, vai levar alguns meses para todo mundo ter um entendimento completo do tom da política monetária no novo governo.
Esse início de ajuste, aliado às medidas prudenciais, fará a inflação voltar para perto do centro da meta quando?
Vai depender muito do tamanho do ajuste fiscal. A retórica do governo tem sido forte. Imaginamos que até o fim de janeiro ficará claro o tamanho exato disso. O fato é que uma política fiscal mais restritiva reduz pressão sobre a demanda. Nossa hipótese para superávit primário, sem truques contábeis, é de 2,5% do Produto Interno Bruto (ainda abaixo da meta de 3,1%). Pelas nossas contas, 1% de ajuste no resultado primário equivale a algo entre 0,4% e 0,5% de inflação. Se o governo der mais ou menos fiscal, fica mais fácil imaginar o que vem de monetário.
Qual sua projeção para a inflação este ano?
Em torno de 5,5%. A inflação só voltaria mais claramente para a meta no ano que vem.
Esse ajuste terá efeito sobre o emprego?
Efeito sobre emprego sempre existe. A intenção da alta do juro é justamente desaquecer a economia. O crescimento de novos empregos desacelera. O Brasil não tem como manter um nível de criação de empregos na casa de 2 milhões de postos por ano sem que isso seja inflacionário. Então, haverá algum impacto. Mas acho que a força do mercado de trabalho é tão grande neste momento que vai demorar um pouco para isso acontecer. Há muita confiança.
Essa alta do juro vai atrair mais dólares para o Brasil e valorizar o real?
Marginalmente, é um incentivo a mais. No entanto, as recentes medidas de controles de capitais têm aumentado o desconforto com o investimento em portfólio (renda fixa e variável) no Brasil. Se essa é a intenção do governo, ele está tendo sucesso. Estive com clientes nos Estados Unidos na semana passada e percebi que aumentou o desconforto. O Brasil deixou de ser tão atrativo porque as medidas criam incertezas e preocupação com muita exposição ao País. Aquela montanha de dinheiro que vimos no ano passado vai ser mais difícil de se repetir.