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18 de abril de 2024Ex-chanceleres afirmaram nesta terça-feira, 28, que a política externa do governo de Jair Bolsonaro não contribui para os interesses do Brasil no exterior e não traduz as necessidades do País em oportunidades de investimentos. Para os diplomatas, a atual política externa prejudica a projeção do Brasil no mundo e promove o autoisolamento do País, defendendo a restauração da racionalidade.
\”O que acontece agora é a incapacidade de afirmar construtivamente a presença do Brasil no mundo de acordo com suas necessidades e seus interesses, até em matéria de coisas óbvias como é nosso relacionamento com a China\”, disse Celso Lafer, que atuou como ministro nos governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.
As declarações foram dadas no painel sobre diplomacia da Brazil Conference at Harvard & MIT, evento anual da comunidade de estudantes brasileiros em Boston e que, neste ano, acontece por videoconferência por causa do coronavírus. O debate foi mediado pela colunista do jornal O Estado de S. Paulo e editoria do site BR Político, Vera Magalhães.
O ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira (governo Michel Temer) afirmou que uma boa política externa precisa ter noção de que o mundo não começou com ela. \”Se inscreve em linhas de continuidade, que definem um perfil diplomático do país e lhe confere credibilidade e previsibilidade nas relações que se travam com os países.\”
O ex-chanceler Celso Amorim, que atuou nos governos FHC, Lula e Dilma, disse que em \”meio século\” nunca viu nada igual e que a reputação do Brasil no exterior é muito ruim. \”Sempre houve uma linha de continuidade. Me envergonho de tudo da política externa hoje. O Brasil teria todas as condições de ser o sócio privilegiado da China, e agora somos o último da fila\”, afirmou. Amorim afirmou ainda que é preciso restabelecer a racionalidade e promover a restauração da atuação na política externa.
O diplomata Rubens Ricupero afirmou que o governo tem feito alianças erradas ao se aproximar do ex-presidente argentino Mauricio Macri e ao criticar o francês Emmanuel Macron e a alemã Angela Merkel, enquanto privilegia os líderes de países como Estados Unidos, Hungria e Polônia. \”O governo tem uma percepção de um universo de ficção, é uma política destrutiva que nada traz em favor dos interesses brasileiros\”, afirmou Ricupero.
Pesquisador da Universidade Harvard, o cientista político Hussein Kalout criticou a subserviência do governo brasileiro ao do presidente Donald Trump, como nunca aconteceu em 200 anos de política externa.
Ele destacou também a necessidade de diferenciar a relação entre pessoas e entre Estados. \”Nas relações internacionais não há amizade, há interesses\”, disse. \”É de extremo amadorismo acreditar que Trump e Bolsonaro são a mesma coisa e que interesses são convergentes em tudo.\” Hussein afirmou que o País tem feito concessões reais em troca de migalhas. \”Essa antidiplomacia vai impingir ao Brasil graves danos.\”