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18 de abril de 2024As previsões dos analistas financeiros costumam estar corretas na direção e erradas na dose. Trata-se de um meio acerto ou de um meio erro? Se isso impede, como vem impedindo, a tomada de decisões firmes e explícitas contra os efeitos da crise, trata-se de erro grosseiro. Apesar de equivocar-se sistematicamente, o mercado não abandona o vício de fazer ilações categóricas. Não há o menor pudor em se proferir sentenças definitivas do tipo: \”Dezembro foi o fundo do poço. Daqui para a frente, tudo vai melhorar\”. O analista estava se referindo ao tombo de 12,4% sofrido pela produção industrial em dezembro, acumulando em três meses declínio de 19,8%. O raciocínio é o de que, como a queda foi muita feia em dezembro, janeiro não será tão triste. E já há indicadores antecedentes neste sentido. Mas dá para confiar?
O mecanismo de autoproteção dos analistas impediu-os de ver a real dimensão da crise no último mês de 2008. Mesmo depois de a atividade fabril ter caído quase 8% no acumulado de outubro e novembro, do quadro de ruína catastrófica nas estatísticas de escoamento dos estoques e da sucessão de férias coletivas, a mediana (firmada só recentemente) dos economistas sugeria uma baixa de apenas 9,8% na produção industrial de dezembro. Erraram todos. Como aceitar então a promessa de que o \”pior já passou\”? Mais grave que aceitar é fechar negócio supondo a exatidão da profecia. E foi com base nesse prognóstico que o mercado futuro de juros da BM&F brecou ontem a velocidade de queda dos CDIs. A taxa do swap de 360 dias recuou de 11,08% para 10,99%. O CDI previsto para a virada do ano cedeu de 11,06% para 10,95%. É pouco, quase nada.
Foram quedas incompatíveis com o choque produzido de manhã pelo dado divulgado pelo IBGE. E com o rumor de que, por causa dele, reunião extraordinária do Copom seria realizada para baixar imediatamente a Selic. O boato não colou. O BC não faria isso porque seria uma invulgar confissão de engano. E porque iria desmentir o discurso de Lula, que vem garantindo o crescimento dos índices de popularidade em meio à recessão, segundo o qual a crise, forjada lá fora, é passageira. O raciocínio dos tesoureiros é o de que podem não acertar o tamanho do estrago na atividade ou a queda dos índices de inflação, mas sabem exatamente o que o Copom irá fazer. E é isso o que importa. O importante, então, é que o BC continue errando.
Para o vice-chefe do Departamento de Economia da UFPR, João Basílio Pereima Neto, o BC está, neste exato momento, errando grosseiramente em termos de nível da taxa básica de juro e de magnitude do movimento de queda. Como se equivocou em termos de direção quando vacilou em tomar o caminho da baixa. Os modelos usados pelo BC e pelo mercado terão maior eficiência se a política monetária for operada com um nível nominal mais baixo de juros. Há muita diferença em se fazer um corte de um ponto nos EUA e um do mesmo tamanho no Brasil. Na comparação feita pelo professor, quando o Federal Reserve (Fed) reduz o juro americano de 4% para 3% está cortando a taxa em 25%. No Brasil, quando o Copom reduz a Selic de 13,75% para 12,75%, a baixa é de 7,2%. \”Em termos relativos, a nossa política monetária é menos expansionista que a do Fed. Em termos de paridade descoberta da taxa de juros, nós adotamos uma política monetária contracionista em relação ao resto do mundo, uma vez que a queda de 7,2% é 3,4 vezes menor\”, diz o economista. Isso abre um espaço maior à arbitragem internacional, atraindo, se a liquidez voltar, o especulador e contendo a desvalorização do câmbio. Ao longo de 2008, o Fed diminuiu a taxa básica de 3,5% para 0,25%. Isso representa um corte de 92,86%. Se um choque da mesma intensidade fosse aplicado no Brasil, a Selic cairia de 13,75% para 1% (na verdade, 0,98%).
Como é que se pode afirmar que a redução de 1 ponto é um verdadeiro \”choque nas expectativas\” se é uma redução de apenas 7,2%? Se a Selic tivesse sido reduzida a 11,75% no último Copom, caindo 2 pontos, a queda efetiva seria de 14,5%, ainda muito pequena. \”Quando se tem uma taxa em nível altíssimo, as doses não podem ser mensuradas com números mágicos, viesados psicologicamente, de 0,5 ponto ou 1 ponto\”, diz o professor da UFPR. E ontem, após a divulgação dos dados do IBGE sobre produção industrial, firmou-se no mercado o \”consenso\” de que o Copom cortará a taxa em um ponto em sua próxima reunião, dia 11 de março. A febre queima hoje e o remédio será ministrado parcimoniosa e tempestivamente apenas no dia 11 de março.
Para o professor Basílio, o Copom sempre tomará decisão atrasada em relação à dinâmica da realidade. O atraso na reação deve-se ao tempo necessário para a realidade gerar dados a serem incorporados ao modelo de previsão. Esta é refeita e, em plena efervescência da crise, a decisão só é tomada a cada 45 dias, como se os movimentos dos agentes fossem os mesmos dos tempos de paz e normalidade. \”O erro é consequência de um processo operacional administrativo, em que a inércia burocrática não permite flexibilizar a gestão e o processo de tomada de decisão com reuniões extraordinárias. Qualquer empresa privada, grande ou pequena que tivesse adotado esta prática teria sofrido fortes reveses no seu negócio. Ora, se os agentes privados são ágeis, a lentidão do BC só pode intensificar os problemas ao invés de corrigi-los\”, observa o economista