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18 de abril de 2024Você viu algum zumbi ultimamente? Se não viu, poderá ver em breve porque eles estão prestes a ameaçar a economia dos Estados Unidos. No jargão financeiro, zumbis são os devedores com poucas esperanças de recuperação, mas que conseguem fugir do extermínio graças ao apoio de seus bancos ou do governo. Os zumbis sugam a vida da economia consumindo dinheiro de impostos, capital e trabalho que seriam melhor empregados em companhias e setores em crescimento. Entretanto, ao cortarem os preços para gerar vendas, as empresas zumbis podem arrastar concorrentes mais saudáveis para a insolvência.
Em algum momento nos últimos meses, os zumbis deixaram de ser um risco latente para se transformarem em uma ameaça genuína – que provavelmente vai aumentar nos próximos meses. A administração Bush deu bilhões de dólares em ajuda a bancos e fabricantes de automóveis fracos. Com a economia americana passando por aquela que poderá ser a pior recessão desde a Grande Depressão, a administração Obama será ainda mais pressionada a ajudar companhias doentes, financeiras e não-financeiras, para que elas mantenham empregos. A discussão estará centrada em gigantes feridos como o Citigroup, General Motors (GM) e a seguradora American International Group (AIG). Outros setores que estão com as mãos esticadas para o governo são o siderúrgico, o das companhias aéreas e o de varejo – além dos proprietários de moradias, que podem ser os zumbis mais assustadores de todos.
Escolhas difíceis estão pela frente, de modo que é importante ter uma estrutura forte para tomá-las. A abordagem certa, segundo aqueles que vêm estudando o assunto, é apoiar uma companhia se seus negócios principais estiverem saudáveis, mas suas fontes de financiamento estão temporariamente fechadas. Caso contrário, é melhor deixá-la à própria sorte. Adiar a decisão, apoiando igualmente as empresas saudáveis e as doentes, servirá apenas para piorar um eventual problema e reduzir o crescimento. \”Se uma instituição é mal administrada e não possui um plano razoável para resolver seus problemas, eles devem fechá-la\”, diz William M. Isaac, ex-presidente da Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC), que hoje preside a consultoria especializada em bancos Secura Group.
O Japão foi invadido por zumbis na década perdida de 1990. Tomadores de empréstimos japoneses fracos usavam novos empréstimos para pagar os juros de empréstimos antigos – um processo chamado de \”evergreening\”, que dispensa os bancos de reconhecer seus prejuízos. Na década de 1980, a indústria do transporte aéreo nos Estados Unidos foi abalada pela Easter Airlines, que teve permissão para continuar voando (e cobrando preços baixos nas passagens) enquanto estava em uma corte de falências. Isso não ajuda ninguém. \”Uma hora você precisa acordar e aceitar o fato de que, \’ôpa, isso não vai funcionar\’\”, diz Stéphane Téral, analista da Infonetics Research, que acompanhou a falência de muitas operadoras de telecomunicações no começo da década de 2000.
Proteger os zumbis pode prejudicar o crescimento no longo prazo ao se bloquear o que o economista Joseph Schumpeter chamou de \”destruição criativa\” – a dolorosa mas necessária realocação de recursos de companhias e setores em declínio para aqueles em ascensão. Isso é crucial. Nos setores industrial e de varejo dos EUA, uma parcela enorme dos ganhos de produtividade vem dessa realocação, afirma o economista Steven J. Davis, da Booth School of Business da Universidade de Chicago. Um exemplo: o crescimento da hipereficiente Wal-Mart às custas das pequenas lojas familiares, que foram deixadas para morrer.
O problema com o atual plano de socorro é que o governo pode estar dando dinheiro para companhias que não têm um futuro no longo prazo: zumbis. No papel, por exemplo, o Departamento do Tesouro diz que está investindo dinheiro do Programa de Ajuda aos Ativos Problemáticos (Tarp, na sigla em inglês) somente nos \”bancos saudáveis – bancos que são considerados viáveis sem investimentos do governo\”, porque \”estão melhor posicionados para aumentarem o fluxo de crédito em suas comunidades\”. Esta é a ideia certa. Mas, na prática, os critérios não estão sendo tão rígidos.
Bancos como o Citigroup ainda não estão fortes o suficiente para emprestar. \”O modelo de ajuda é socialista\”, diz R. Christopher Whalen, vice-presidente sênior da consultoria Institutional Risk Analytics. Ele defende a venda das instituições quebradas aos pedaços, como foi feito para resolver a crise das sociedades de crédito imobiliário no fim dos anos de 1980 e começo de 1990.
Quando um grande empregador tem problemas, é uma tentação tentar mantê-lo a qualquer custo. O economistas chamam isso de \”socialismo do limão\” – o investimento de dinheiro público nas piores companhias, em vez das melhores. O impulso é equivocado, diz Eduardo M. Engel, professor de economia da Universidade Yale. \”Não se quer proteger empregos\”, diz ele. \”O que se quer proteger é a renda dos trabalhadores durante a transição de um emprego para outro.\”
Já existe uma arma poderosa e pouco usada contra os zumbis: a lei de falências e concordatas. As cortes de falência liquidam as companhias mais fracas e permitem às potencialmente viáveis eliminarem o suficiente de suas dívidas para que possam voltar a ganhar dinheiro.
No momento, o maior problema zumbi pode estar no setor de moradias. Milhões de proprietários estão fazendo malabarismo com hipotecas que não podem pagar, junto com outras dívidas: cartões de crédito, financiamentos para a compra de automóveis e assim por diante. Na luta por manterem a cabeça fora d\’água, eles estão cortando os gastos, o que está prejudicando o crescimento econômico. Até 2005, uma declaração de falência teria reduzido suas dívidas com consumo, liberando mais dinheiro para as hipotecas.
Mas uma lei aprovada naquele ano agravou o problema dos zumbis ao tornar muito mais difícil o perdão de dívidas ruins. Modificações tímidas nas condições dos empréstimos não vêm ajudando muito. Segundo um novo estudo de Alan M. White, um professor de direito da Valparaiso University School of Law, só um terço das modificações em hipotecas subprime e quase subprime em novembro de 2008 envolveu reduções nos pagamentos mensais, frequentemente porque prestações atrasadas foram acrescentadas ao principal. Como resultado, escreve ele, \”muitas modificações são temporárias\”. É a condição zumbi.
Olhando para frente, os economistas estão tentando desenvolver meios para tornar o sistema financeiro mais resistente e menos propenso a gerar zumbis. Um grupo de 16 economistas financeiros importantes, que se chama de Squam Lake Working Group of Financial Regulation, está trabalhando silenciosamente num plano que espera receber atenção das autoridades reguladoras em Washington e outras capitais americanas.
Kenneth R. French, do Dartmouth College, que ajudou a organizar a primeira reunião em Squam Lake, New Hampshire, em novembro, diz que um dos objetivos é inventar uma maneira de fechar ou reestruturar instituições enfraquecidas com um mínimo de efeito colateral para outras empresas e a economia em geral.
As recessões provocam grandes danos, mas elas também podem ser boas de certa forma, se forçam uma realocação necessária de recursos e investimentos para os setores mais promissores.