A menos de 10 dias para a Copa do Mundo, a demanda de passagens abaixo do esperado obriga as companhias aéreas a comercializar os bilhetes a preços mais baixos para atrair passageiros de última hora. Às vésperas de a bola rolar, 8,5 milhões de passagens ainda estão disponíveis para o período. Sem os tradicionais – e rentáveis – passageiros de viagens corporativas, as empresas têm um baita desafio para atingir a taxa média de junho e julho do ano passado: vender quase 6 milhões de passagens.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) faz o monitoramento diário da comercialização de passagens aéreas. De 6 de junho a 20 de julho, a taxa de ocupação nos voos com destino ao aeroporto de Confins varia de 11,32% (16 de julho) a 44,01% (13 de junho). Considerando todas as cidades-sede, o dia com maior demanda é 22 de junho para Congonhas (São Paulo), com 59,02% dos assentos já ocupados. No dia seguinte, Holanda e Chile duelam no Itaquerão.
O último balanço, elaborado em 15 de maio, mostra que 26,5% das passagens haviam sido compradas, ou seja, apenas 3 milhões das 11,5 milhões de passagens ofertadas. Pelos dados, até o início de abril, 10% das passagens tinham sido vendidas. O volume mais que dobrou até 1º de maio, tendo atingido 21,2% de taxa de ocupação. No ano passado, junho e julho tiveram ocupação média de 76,85% e 78,87%, respectivamente.
Se, por um lado, as companhias aéreas precisam aumentar seus esforços para vender mais, por outro, os hotéis garantem boa ocupação para os dias de jogos em Belo Horizonte. Segundo a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais (Abih-MG), Patrícia Azeredo Coutinho, a taxa de ocupação para os dias de jogos saltou de 60% no último mês para algo em torno de 85% a nove dias do Mundial. Para os jogos de oitavas de final e semifinal, a taxa é de 95%.
Na média dos 40 dias de evento, segundo ela, o percentual de ocupação é pouco menor, em função dos dias entre os jogos, que são mais ociosos, variando de 65% a 75%. “Também temos o problema de não receber o cliente corporativo – que é o nosso principal público – durante os jogos, mas sentimos uma melhora muito grande nos últimos dias, com a ocupação aumentando a cada semana”, garante. O descompasso entre aéreas e hotéis pode ser explicado pelo grande número de torcedores brasileiros que devem transitar pelo país e que podem optar por outras formas de transporte. Segundo estimativa do Ministério do Turismo, são esperados 600 mil estrangeiros e 3,1 milhões brasileiros.
Diante da demanda aquecida dos turistas, os preços praticados pelos hoteis seguem nos mesmos patamares dos meses anteriores, e ainda há vagas para quem se interessar em assistir um dos jogos na capital mineira. “Todos os dias de jogos têm tido boa procura. Por isso as pessoas devem se apressar porque há poucas vagas”, diz. Uma das opções para quem ainda não fez reservas, segundo ela, é recorrer aos novos hotéis inaugurados na cidade – um total de 27 estabelecimentos –, que aumentaram a capacidade de atendimento para mais de 11 mil quartos em operação.
Preços médios
Segundo levantamento do site de buscas de reservas Trivago, os preços médios para diária em um quarto duplo durante os jogos da primeira fase em BH variam de R$ 459 a R$ 665, sendo a mais cara para o dia do jogo entre Costa Rica e Inglaterra. Para o jogo de oitavas de final, o valor médio é de R$ 403 para duas pessoas. Para a semifinal o preço médio encontrado foi de R$ 603. O superintendente da Royal Hotéis, André Bekerman, acredita que a ocupação para os jogos da primeira fase deve se manter, mas que pode crescer caso haja busca de última hora, feita por brasileiros. “A poucos dias da Copa os estrangeiros já fizeram suas reservas”, garante.
Prejuízo no horizonte
O presidente do grupo Latam, Enrique Cueto, antecipou ontem que o período da Copa resultará em prejuízos para os voos domésticos e internacionais da TAM. “Vamos ter menos dias úteis, pois, em dia de jogo o Brasil pára, não tem tráfego de negócios. E, por causa da Copa, o brasileiro não vai viajar, nem para as estações de esqui no Chile e na Argentina, e nem para Miami, Orlando e Europa, afetando o tráfego regional e de longo curso”, disse Cueto na 70ª Conferencia Anual da Associação Internacional das Empresas Aéreas (Iata, sigla em inglês), no Catar.
Nos últimos meses do ano passado, antes de a Fifa definir que jogos seriam disputados em que cidades, os preços das passagens estavam nas alturas, com trechos cotados acima de R$ 1 mil. A criação de voos extras e a ameaça do governo federal de punir os casos de abusos induziu à redução de preços. O gerente de Planejamento de Viagens e Produtos da agência Master Turismo, Felipe Dias, afirma que é possível identificar bons preços para praticamente todo o período. A exceção está nos dias de jogos importantes, como o da final, no Maracanã. “As companhias jogaram os preços no chão. O turista consegue passagem para o Rio a cento e poucos reais. Antes, estavam a R$ 800, R$ 1 mil”, afirma Dias.
Faltando poucos dias para a bola rolar, o mercado está mais aquecido. Como bons brasileiros, muitos deixaram para fechar o planejamento na última hora. Apesar do possível prejuízo amargado pelas companhias aéreas, a agência de turismo diz que as perdas causadas pelas passagens serão equilibradas com outros produtos, como traslado e hospedagem. “Com as crianças com longo período de férias, os pais estão aproveitando para viajar o mês inteiro”, diz o gerente da Master Turismo.
Promoções
A Azul confirma a baixa na quantidade de bilhetes emitidos para o público corporativo, ressaltando que o rearranjo da malha, com a inclusão de voos extras, prevê tal redução. O baque já era previsto pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), repetindo o cenário de Alemanha e África do Sul, quando a queda foi de 70% nesse tipo de passagem. A alta demanda turística no período da Copa do Mundo faz com que eventos corporativos sejam programados para outras datas, o que acarreta em queda considerável da compra de passagens no período.
Uma saída é a realização de promoções. A empresa tem divulgado ações promocionais semanalmente. Por exemplo, a oferta de passagens a partir de R$ 59 ou com 3 mil pontos do programa de milhagem. O uso de 50 mil pontos também permite ao cliente voar para seis trechos, com ida e volta, valendo somente para o período de 1 de junho a 31 de julho.
Segundo a TAM, até o momento, 60% das passagens aéreas domésticas vendidas para o período foram comercializadas por preços inferiores a R$ 200. “A política tarifária da TAM para o período do torneio é semelhante à de outros períodos de alta demanda, como carnaval e férias escolares”, diz nota da companhia aérea, que explica que os preços variam de acordo com fatores com demanda, horário de voos, antecipação da compra e tempo de permanência no destino.
Durante a Copa do Mundo, a procura será muito parecida com os meses de junho e julho do ano passado – período de férias e grande volume de passageiros nos aeroportos – e que, ” os possíveis picos em datas específicas do evento, serão equilibrados pela diminuição de clientes corporativos”. A empresa diz que mantém a precogitarão, e que 85% das passagens vão custar até R$ 499.