Os 27 países membros da União Europeia (UE) discordam sobre a criação dos \”bad banks\”, para gerir os ativos tóxicos detidos pelos combalidos bancos europeus, ilustrando a dificuldade para o bloco ter posição comum contra a crise.
De maneira geral, os países concordam que a gestão desses ativos ilíquidos é uma das principais condições para limitar o aperto de crédito e reduzir o ritmo da recessão. Mas a briga começa sobre a oportunidade e as modalidades de funcionamento desse instrumento.
A Grã-Bretanha foi a primeira a agir para garantir os ativos tóxicos. A Alemanha examina a criação do \”band bank\” nas instituições mais atingidas. Já a França se opõe à generalização desse instrumento, alertando para distorções à concorrência. A Bélgica questiona o custo para os governos da compra dos créditos podres, quando os déficits públicos explodem com os planos de estímulo econômico.
A França, especialmente, tem uma péssima experiência com o \”bad bank\”, como o presidente Nicolas Sarkozy mencionou em entrevista à imprensa. Em 1995, o socorro ao Credit Lyoonnais custou 15 bilhões de euros aos contribuintes, e os processos na justiça duram até hoje envolvendo o valor de créditos podres. Nessa briga, o Banco Central Europeu (BCE) diz temer que exigências muito estritas aos bancos que se livrarão dos ativos tóxicos possam enfraquecer ainda mais essas instituições.
Os ministros de Finanças dos 27 países membros da UE se reúnem hoje em Bruxelas, para tentar pelo menos um compromisso sobre \”linhas gerais\” para enquadrar a gestão dos ativos tóxicos dos bancos.
De outro lado, existem mais convergências entre os governos europeus para reformar os bônus dos dirigentes e \”traders\” dos bancos. O debate foi relançado com a decisão do presidente dos EUA, Barack Obama, de limitar a US$ 500 mil por ano o salário de dirigentes de bancos que recorrem à ajuda do governo.
A intervenção política contra Wall Street cresce diante da irritação popular diante dos US$ 18 bilhões de bônus recebidos pelos banqueiros americanos, no que foi chamado de \”uma vergonha\” por Obama.
Na França, o governo praticamente impôs aos bancos do país um \”código ético\” que limita a chamada parte variável dos salários dos traders, \”esses jovens que brincavam de especular\”, na expressão do presidente Nicolas Sarkozy atacou.
Agora vão acabar os bônus garantidos, que representavam entre 5% e 10% do que os traders obtinham para os bancos nas operações mais arriscadas.
Na Grã-Bretanha, também a pressão é forte. O governo reagiu depois que o Royal Bank of Scotland, cujo 68% está nas mãos do Estado após a injeção de capital de mais de US$ 20 bilhões, queria distribuir quase US$ 2 bilhões de bônus.
Na Suíça, o UBS e o Credit Suisse, com o futuro incerto e preparando-se para anunciar perdas recordes esta semana, planejavam juntos pagar 5 bilhoes de francos de bônus – 14 bilhões a menos do que em 2007, mas ainda assim um montante elevado, considerando seus prejuízos.